Pesquisa da Abracerva reitera confiança na cerveja artesanal

Levantamento com 200 cervejarias afiliadas não encontra uso de dietilenoglicol na produção

Presidente da Abracerva indica que consumidor pode continuar bebendo cerveja artesanal sem medo (Foto: Bruno Dupon/Divulgação)

Buscando entender melhor a produção das cervejarias independentes brasileiras (popularmente chamadas de artesanais), a Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva) realizou um levantamento entre os associados para saber sobre os processos de resfriamento utilizados pelas fábricas. Entre as 200 cervejarias que responderam, 87,4% utilizam álcool na fabricação, 6% propilenoglicol (que não é tóxico ao ser humano) e 5,1% outros métodos. Apenas 1,5% das respondentes usam o etileno glicol, que tem um índice de toxicidade muito inferior ao dietilenoglicol. Eles já receberam a recomendação de substituição do componente.

Com a inédita contaminação ocorrida em Minas Gerais, a Abracerva indiciou aos órgãos competentes que, através de uma normativa, proibisse o uso do dietilenoglicol nos processos.

Carlo Lapolli, presidente da entidade, comenta que o objetivo do levantamento era entender qual é a proporção do uso dessa substância:

“Empiricamente já sabíamos que o número era baixo e que o risco de acontecer era pequena. Constatamos isso na pesquisa: 98,5% não usam e temos convicção que, mesmo esses 1,5% que utilizam, tomam as medidas de precaução e já estão implantando mudanças.”

Lapolli reafirma ao consumidor que ele pode seguir apoiando e consumindo cervejas de outras fábricas sem problemas:

“Como viemos reforçando: o caso é inédito neste mercado. Estamos à disposição, assim como as indústrias, para mostrar o processo e para que o consumidor veja que o negócio da cerveja artesanal é sério, profissional e passa por acompanhamento constante dos órgãos de fiscalização. O que aconteceu em Minas Gerais é uma exceção absoluta e não pode prejudicar um setor ascendente e impactante como o nosso.”


A Abracerva também preparou um "tire as suas dúvidas", que a Beer Art reproduz abaixo:

O que é dietilenoglicol? E monoetilenoglicol?

O dietilenoglicol é uma substância utilizada por várias indústrias como um anticongelante. Ele pode ser resultado do contato do monoetilenoglicol com qualquer meio ácido. Ambos, tanto o dietilenoglicol como o monoetilenoglicol são tóxicos, mas em quantidades muito diferentes. Etilenoglicol e monoetilenoglicol são sinônimos.

Como ele é usado na produção de cerveja?

A produção de cerveja inicia com a fervura dos ingredientes. Depois, eles vão para tanques de fermentação, onde precisam ter a temperatura baixa (cerca de 0ºC e em alguns casos menos). Para isso, serpentinas de inox circulam os tanques e dentro delas está um líquido que precisa fazer a temperatura se manter baixa durante a fermentação. Elas são completamente vedadas e não têm contato com a bebida.

E por que se usam essas substâncias ao invés de água?

Porque o objetivo é baixar as temperaturas dos tanques para perto de 0°C. A água congelaria, nesse caso. Esses compostos são considerados anticongelantes e permitem que os tanques atinjam a temperatura desejada pelo cervejeiro.

Vale lembrar: esse sistema é isolado e circula em serpentinas de inox. Ele não tem contato direto com a bebida.

Todas as cervejarias usam esse componente?

Não. Uma pesquisa com 200 cervejarias realizada pela Abracerva logo após o ocorrido em Minas Gerais mostrou que nenhuma utiliza o dietilenoglicol em seus processos de resfriamento. O levantamento mostrou que 87,4% usam álcool, 6% propilenoglicol e 5,1% outras técnicas não-tóxicas. No total, 1,5% afirmaram usar etilenoglicol, que não é, nem de perto, tão tóxico como o dietilenoglicol.

Vale lembrar que esses elementos não estão na cerveja. Eles são usados no processo de resfriamento dos tanques e circulam em serpentinas isoladas.

O álcool e propilenoglicol são seguros?

Sim. Eles não são tóxicos para seres humanos. Além disso, no processo produtivo eles não entram em contato direto com a bebida, conforme explicamos acima.

Podemos dizer que é seguro beber cerveja artesanal?

Sim e por várias razões. A primeira delas é que, para que uma cerveja chegue às prateleiras, as fábricas passam por um processo de autorização e fiscalização intenso. Uma fábrica de cerveja artesanal é uma indústria de alimentos como outra qualquer e tem o acompanhamento dos órgãos competentes.

Depois, porque o que aconteceu em Minas Gerais é um caso inédito e ainda sem explicação. Não tivemos nenhum tipo de contaminação que causasse danos à saúde até hoje no mercado da cerveja no Brasil e no mundo.

Mas então como se explica esse caso em Minas Gerais?

As investigações vão nos responder. Essa é uma situação inédita no mundo e ainda não existe clareza nos motivos que levaram a ela. Só depois de todas as explicações técnicas poderemos julgar.

A Abracerva se solidariza com as vítimas da contaminação e espera que logo todas as explicações venham a tona.

O que é uma Cerveja Artesanal?

No Brasil, não existe uma definição legal do que é cerveja artesanal. Usualmente se considera cerveja artesanal um produto feito em menor escala do que as cervejas de massa, com o uso de ingredientes diferenciados e com um resultando focado em apresentar mais aromas e sabores.

Qual a definição de cervejaria artesanal para a ABRACERVA?

A Abracerva prevê que para a participação em seus quadros uma cervejaria tenha a produção anual inferior a 5 milhões de litros por ano, e não tenha participação societária de grandes grupos cervejeiros. A Abracerva abriga as cervejarias artesanais independentes.

Uma cerveja artesanal é tão segura como uma cerveja industrial?

Apesar de existir essa denominação ambos os produtos seguem as mesmas regras de produção do Ministério da Agricultura. Do ponto de vista legal, as condições de produção, ingredientes permitidos, rotulagem, processo de fabricação, obedecem as mesmas normas.

Quem fiscaliza as cervejarias?

O principal órgão fiscalizador de uma cervejaria é o MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regularmente os fiscais do MAPA inspecionam as fábricas estabelecidas, inclusive recolhendo produtos para análise de qualidade.

O que é preciso para abrir uma cervejaria no Brasil?

Toda cervejaria para operar, precisa de um registro prévio junto ao MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A empresa deve submeter uma série de documentação, inclusive o Manual de Boas Práticas de Fabricação e Planilhas Operacionais Padrão, descrevendo os processos produtivos, controles de processo, análises e registros básicos de qualidade. Após ter aprovada a documentação, há a realização de uma vistoria e estando tudo de acordo a liberação do registro é efetivada.

Uma cervejaria pode comercializar produtos sem estar registrada?

Não. O registro prévio do estabelecimento e dos produtos é obrigatório, considerando-se infração sujeita a multa a produção e comercialização de produtos sem tal registro.

Cerveja Caseira e Artesanal são a mesma coisa?

Costumeiramente se denomina cerveja caseira aquela produzida por um particular em sua residência para consumo próprio, enquanto que cerveja artesanal é aquela fabricada em cervejarias devidamente registradas, porém, com escala de produção menor do que as grandes cervejarias.

É legal produzir cerveja em casa?

É permitida a produção de cerveja caseira e não depende de qualquer registro. Entretanto, a cerveja caseira não pode ser comercializada, constituindo infração a venda de produto sem registro e sem documentação fiscal.

Consumir cerveja caseira é seguro?

A produção e consumo de cerveja caseira é seguro, desde que o cervejeiro adote boas práticas de fabricação.

A cerveja caseira pode estar contaminada com etilenoglicol ou dietilenoglicol?

Como no processo de fabricação não se utiliza o sistema de refrigeração presente em fábricas, a possibilidade contaminação por estes produtos químicos é inexistente. Os cervejeiros caseiros, normalmente utilizam bombonas plásticas colocadas em refrigeradores para o resfriamento do produto, ou água para o resfriamento.