“Agora eu moro no país dos meus sonhos”
/A siberiana Anna Lewis, fundadora da cervejaria Wonderland, é uma inspiração para empreendedoras
Quando criança, na Sibéria, um ponto gélido em outra ponta do planeta, Anna costumava assistir a novelas brasileiras com a avó. Assim a russa se apaixonou pela natureza, pela música, pelas praias e pelo sol. Para quem mora onde faz nove meses de neve e escuridão, o Brasil parece um paraíso, explica hoje a siberiana mais carioca do mundo. Ambientada entre as praias fluminenses, Anna Lewis se dedica a uma cervejaria artesanal, a Wonderland, que em 2018 fundou com o marido, o americano Chad Lewis, e com o brasileiro Pedro Fraga.
Mas ela ainda está se adaptando ao calor do Rio. O bom é que mora a dois quarteirões da praia de Copacabana. Ela assim descreve a sua convivência com a temperatura alta:
“Quando está a 40 graus lá fora, prefiro passar o dia na água. Uma das maiores diferenças na minha rotina aqui é que começo o dia com um suco de frutas frescas. Elas são tão ricas em sabor aqui, é fascinante. E a cerveja com frutas locais fica muito brilhante, como a nossa Tweedles, uma cerveja Sour com morango, goiaba, cacau e cupuaçu. Outra diferença é que eu passo mais tempo ao ar livre. Aqui você não precisa gastar 15 minutos colocando três, cinco camadas de roupa para sair.”
Ela ainda está aprendendo o idioma local e tentando lembrar gírias. Considera a parte mais difícil lembrar todas as conjugações.
“O português é até agora a língua mais difícil e mais bonita que aprendi”, revela.
Anna está acostumada a superar desafios. Abandonou a carreira na área de TI na Rússia para se dedicar a fazer cervejas no Brasil: dois mercados tradicionalmente dominados por homens. Talvez por isso, justamente, Anna não se sentiu intimidada a apostar na Wonderland:
< “Já estava acostumada a lidar com homens o tempo todo”, lembra.
A Wonderland Brewery é inspirada na jornada de rebeldia e autodescoberta de Alice no País das Maravilhas. Todas as cervejas são inspiradas em personagens da história e, naturalmente, a Alice ocupa lugar de destaque. A narrativa da cervejaria aposta em uma linguagem simpática às mulheres como, por exemplo, nas ilustrações dos rótulos (complexas, oníricas, delicadas).
Na Wonderand, Anna participa da estratégia de negócios, comunicação e, claro, nas receitas. Timeless Porter, eleita a melhor cerveja do Mondial de la Bière 2019, foi uma receita que ela desenvolveu com o então noivo para o casamento.
Se antigamente as mulheres eram mais relacionadas a vinhos ou coquetéis, hoje elas ocupam também as torneiras de chope. Na Wonderland, são cerca de metade dos consumidores. E as cervejas da marca são bastante lupuladas, passam longe de serem “inofensivas”.
“Talvez por sermos gringos, temos grande fascínio pelas frutas do Brasil. Por isso, apostamos muito nos sabores e aromas frutados em nossas cervejas: abacaxi, cupuaçu, manga, coco, goiaba. Pode ser que isso explique a grande aderência das nossas cervejas entre as mulheres. Mas não se engane: as cervejas da Wonderland são muito complexas, têm aroma e sabor marcantes”, comenta Anna, que se sente realizada no Brasil: “Agora eu moro no país dos meus sonhos”.