Cerveja da Dádiva 3/4 expõe disparidade entre homem e mulher

Desigualdade salarial entre gêneros é tema da campanha de Dia das Mulheres da cervejaria paulista

A lata maior - 473ml - simboliza o salário médio do homem; a a menor - 350ml -, o da mulher, para a mesma função (Foto: Divulgação)

O Dia da Mulher marca uma luta histórica por igualdade, não celebração, e fazer com que as pessoas entendam isso - e não saiam apenas dando parabéns ou presenteando com flores e bombons - já não é uma tarefa muito fácil. Neste ano, a cervejaria Dádiva resolveu jogar luz sobre um debate antigo, cuja evolução, porém, ainda é lenta: a desigualdade salarial entre homens e mulheres.

Para isso, a cervejaria lançou a Dádiva 3/4, uma cerveja que será vendida em duas latas: uma delas é maior - 473ml - e simboliza o salário do homem; a outra é menor - 350ml - e revela os rendimentos relativos da mulher, ou seja, quanto ela ganha exercendo o mesmo trabalho do que ele, na mesma função. Ambas as latas serão de cor roxa, simbolizando o movimento feminista.

A Dádiva 3/4 é uma New England India Pale Ale (NE IPA) com lúpulos da Nova Zelândia e da África do Sul e 6,1% de teor alcoólico. Seus aromas e sabores lembram frutas de caroço e de frutas cítricas doces, além de um toque herbal e sutil de frutas vermelhas, como mirtilo e groselha. O pack contendo as duas latas poderá ser encontrado em bares, empórios e e-commerces de todo o país, com preço sugerido de venda de R$ 59, no lançamento, já incluidas as duas latas (que não serão vendidas separadamente).

A disparidade de salários entre homem e mulher

O Brasil está na 93ª posição no ranking geral de diferença global de gênero, e a estimativa é de que demore cerca de 267,6 anos para que se alcance igualdade entre homens e mulheres, segundo o Relatório de Desigualdade Econômica de Gênero de 2021, do Fórum Econômico Mundial.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2019, do IBGE, mulheres recebiam à época 77,7% (em média) dos rendimentos dos homens. Em 2021, pesquisa salarial realizada pela Catho confirmou que esse cenário não mudou muito, e o gap salarial chegou a 34%.

Quando os dados são segmentados, são explicitadas situações ainda mais dramáticas: em 2019, mulheres em cargos de diretoria e gerência recebiam 61,9% em relação aos homens na mesma posição, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE. Em 2021, segundo a Catho, essa diferença caiu um pouco e elas chegaram a receber 24% menos do que eles nessas funções.

Se a segmentação por posições escancara disparidades, a racialização nos mostra um abismo ainda maior. A edição de 2019 do Panorama Mulher, feito pela Talenses e pelo Insper, mostrou que a maior parte da liderança no Brasil é masculina e branca. Cerca de 95% dos presidentes das empresas analisadas eram brancos. Destes, 87% eram homens. Dentre as empresas presididas por mulheres, havia apenas uma negra e nenhuma parda, amarela ou indígena.

Segundo dossiê realizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (ANTRA) e pelo Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE), cerca de 90% da população de travestis e mulheres transexuais, a maioria delas negras, semianalfabetas e com baixíssima expectativa de vida, acabam se prostituindo por não conseguir se posicionar profissionalmente, o que evidencia uma disparidade ainda mais dramática.

Luiza Lugli Tolosa, sócia-fundadora da Dádiva, afirma:

“Todos esses dados nos mostram o quanto ainda precisamos evoluir como sociedade. E é por isso que procuramos todos os anos trazer temas relevantes sobre a equidade de gênero em nossas campanhas. Desde que eu inaugurei a Dádiva, esse é um tema importante para nós e que pauta muitas das nossas ações. A nossa meta era ter no quadro de funcionários a mesma quantidade de mulheres e de homens, com elas exercendo funções tanto na parte de processos de produção, quanto nos cargos de gestão. E, hoje, conseguimos atingir esse objetivo.”

Administradora de empresas pela Universidade de São Paulo (USP), Luiza viu na cerveja artesanal um nicho promissor quando fundou a cervejaria Dádiva, em 2014. Na época, sua decisão foi prática:

“Já tinha vontade de empreender e esse era um mercado em ascensão no Brasil.”

Quando começou a estudar para criar a Dádiva, ela ainda conhecia pouco sobre o mercado:

“Fiz dois cursos no Instituto da Cerveja Brasil: de Sommelier e de Análise Sensorial. Além de os cursos me oferecerem muito conhecimento teórico e prático sobre estilos, criei uma ótima rede de relacionamentos com alunos e professores que abriram muitas portas para mim.”

E ao longo desses sete anos atuando no meio cervejeiro, um mercado ainda visto por muitos como masculino e no qual mulheres precisam provar todos os dias sua capacidade, Luiza se transformou em uma das principais porta-vozes do segmento.