Microcervejarias como ferramenta de desenvolvimento socioeconômico nos municípios

Em artigo, Luis Bramante, gestor da Associação Cerveja Livre, destaca a importância de maior integração

"As microcervejarias podem contribuir para o desenvolvimento regional e promover a região como um importante polo cervejeiro", diz Luis Bramante (Foto: Arquivo Pessoal)

"As microcervejarias podem contribuir para o desenvolvimento regional e promover a região como um importante polo cervejeiro", diz Luis Bramante (Foto: Arquivo Pessoal)

Luis Bramante

São consideradas microcervejarias aquelas com capacidade para produzir até 200 mil litros de cerveja artesanal por mês. O que as diferencia das grandes cervejarias basicamente é a sua capacidade de produção e o processo produtivo, o qual é mais lento e cuidadoso, levando mais tempo nas etapas de fermentação e maturação, de modo que não seja necessário acrescentar produtos químicos a fim de acelerar o processo. Além disso, há uma atenção especial aos insumos utilizados, que resultam num produto de qualidade e evidenciam o sabor e o aroma da cerveja.

A cerveja artesanal é produzida partir de quatro ingredientes básicos: água, malte, lúpulo e levedura, mas podem ser adicionados outros ingredientes que dão um toque especial como especiarias, frutas, chocolate, entre outros, dependendo do estilo da cerveja produzida.

A história da cerveja no Brasil remonta ao ano de 1654, quando os holandeses por aqui chegaram, mas é somente em 1853 que o país passa a ter sua primeira cervejaria, com a fundação da Cervejaria Bohemia. Nos anos 90, temos o registro das primeiras microcervejarias brasileiras, com produção de cerveja artesanal da forma que conhecemos hoje, como a Dado Bier no Rio Grande do Sul no ano de 1995 e a Colorado em Ribeirão Preto, em 1996. Mas é a partir de 2000 que percebemos um crescimento significativo do setor no Brasil.

Segundo o Anuário da Cerveja 2020 publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), quando foi realizada um primeiro levantamento em 2000, haviam instaladas no país 40 cervejarias. Este número chegou a 1.383 cervejarias, com a abertura de 204 novas cervejarias somente em 2020, representando um aumento de 14,4% comparado a 2019. A região Sul-Sudeste concentra mais de 85% das cervejarias instaladas no país e São Paulo é o estado com o maior número de cervejarias instaladas (285).

O aumento significativo de microcervejarias no país vem demonstrando que a evolução deste mercado é resultado da profissionalização e do desenvolvimento deste setor.

Neste cenário, Sorocaba desponta como um dos principais polos cervejeiros do país, ocupando o 7º lugar entre os municípios de maior crescimento, com 18 microcervejarias instaladas. Somente no período de 2017 a 2019 houve um crescimento de 485% de novas cervejarias. Quando consideramos a Região Metropolitana de Sorocaba que abrange 27 municípios, existem aproximadamente 30 microcervejarias, além de duas grandes cervejarias, a Heineken em Itu e o Grupo Petrópolis em Boituva.

Para organizar o setor e fortalecer esta cadeia produtiva, foi criada em 2018 a Associação das Microcervejarias do Interior do Estado de São Paulo, mas conhecida como Associação CERVEJA LIVRE. A entidade foi criada com a missão de aumentar a base de consumidores de cerveja artesanal, através do incremento e promoção da cultura da cerveja artesanal e de sua história.

Desde a sua criação foram realizadas diversas ações como debates, reuniões técnicas e eventos, sendo o principal o “Oktoberfest Sorocaba”, que na sua última edição reuniu mais de 2.000 participantes de todo país e já consta no calendário oficial de eventos do município e do Estado de São Paulo.

Atualmente a Associação conta com 19 empresas associadas, sendo 11 microcervejarias (oito de Sorocaba, uma de Votorantim, uma de Capela do Alto e uma de Tatuí), além de outras oito empresas que compõem a cadeia produtiva como fornecedores de insumos, pontos de vendas e outros serviços. Estas empresas representam mais de R$ 20 milhões de faturamento, 100 empregos diretos gerados e mais de 2 milhões de litros de cerveja produzidos anualmente.

Devido à sua organização e representatividade, conseguiu juntamente com o apoio da Prefeitura Municipal de Sorocaba, através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, o reconhecimento do Governo do Estado de São Paulo como Polo Cervejeiro da Região Metropolitana de Sorocaba. Isso é de extrema relevância pois no estado são somente 3 polos oficialmente reconhecidos: Sorocaba, Campinas e Ribeirão Preto.

A região de Sorocaba já ocupa lugar de destaque no mapa cervejeiro nacional e tem gerado o interesse de visitantes e turistas que vêm para conhecer as cervejarias e suas cervejas premiadas nacional e internacionalmente.

Seja através da produção industrial com a fabricação das cervejas ou recebendo visitantes em suas fábricas, as microcervejarias podem contribuir para o desenvolvimento regional e promover a região como um importante polo cervejeiro.

Muitos municípios têm percebido este grande potencial, mas é necessário organizar o setor através da prática do associativismo e da parceria público-privado para criar ambientes favoráveis e competitivos com o objetivo de desenvolvê-lo de forma sustentável, e quem sabe, transformá-lo em um destino para o turismo cervejeiro! Saúde!


Diretor da Bramante Consultoria, especialista em Planejamento e Marketing de Destinos. Gestor da Associação Cerveja Livre