O melhor copo para a cerveja

Leia texto de Vinícius H. Masutti sobre a escolha do copo mais adequado para cada estilo

Com o avanço da cerveja artesanal e sua diversidade de estilos, aumenta também a curiosidade sobre como melhor saborear a bebida. Para contribuir, a Revista Beer Art incluiu em seu site um espaço que explica os copos mais adequados a cada estilo (está no link revistabeerart.com/copos).

O material é apenas uma ajuda, sem a intenção de intimidar os leigos. É o que explica Vinícius H. Masutti, neste texto encomendado pela Beer Art para apresentar a seção (ler abaixo).


Cada cerveja no seu copo?

Vinícius H. Masutti

Quando começamos a desvendar o vasto universo da cerveja, nos deparamos com inúmeros tipos de copos e taças. Todo empório ou bar que se preze e que respeite a cerveja tem à disposição uma boa variedade de copos, mas em lugares como a Bélgica, por exemplo, o bom bar precisa ter o copo específico da cervejaria, caso contrário sua cerveja não será servida e não adianta espernear. O Maurício Beltramelli conta uma história dessas no seu livro “Cerveja, brejas e birras”. E é verdade: em alguns lugares o respeito para com a cerveja é tão grande que o estabelecimento se recusa a servir a bebida caso o copo dela não esteja disponível, e isso é sem dúvida louvável, mas é um extremo. Vamos ao outro.

Você encontra um bar que até tem algumas cervejas especiais ou artesanais, mas só tem o famoso “copo americano”, que na verdade é bem brasileiro, e você achou ali naquele bar por um acaso uma cerveja que nunca experimentou, mas já ouviu falar e portanto sempre quis provar. Aqui nesse bar o garçom não vai nem hesitar em servi-la no copo de sempre e então você fará a degustação e certamente se deliciará com a cerveja. Até aí tudo certo não? Não.

Quando o boom-beer começou por aqui há alguns anos, ninguém reclamaria do segundo bar, porque era extremamente difícil encontrar boas cervejas por essas bandas e quando isso acontecia não importava o copo, e sim a cerveja. Mas, com o crescimento da cultura cervejeira surge, além dos entusiastas, pesquisadores e apreciadores da bebida, o radical cervejeiro, um problema. O radical é o extremista, é o sujeito que aprendeu alguma coisa sobre a cerveja, como o uso dos copos e taças adequados e imediatamente passou a atacar todo e qualquer bebedor a fim de experimentar uma cerveja nova sem seu copo próprio. O problema nesse caso não é a ânsia desses sujeitos em querer que todos bebam boas cervejas em seus copos certos, isso é compreensível, o problema é exigir isso. Esses caras fazem parte do grupo conhecido como “cervochatos”, não liguem pra eles.

Vejam, alguns recipientes em que bebemos nossa adorada bebida fermentada foram criados pensando nela, foram projetados cuidadosamente para que a cerveja demonstrasse neles todo seu vigor, sua forma, cor e seus aromas, mas nem todos. O que muitos não sabem ou não procuram saber é que alguns copos que são regra numa degustação não foram pensados no valor da cerveja. Sim senhores. O famoso “pint” por exemplo (que na verdade é uma unidade de medida) foi idealizado para custar pouco, ser difícil de quebrar e poder ser segurado, pois nos pub’s o pessoal ficava em pé a maior parte do tempo, por isso que o pint tipo nonic tem aquela voltinha no começo e o copo da guinness tem a base mais estreita do que o topo, para que não escorreguem das mãos e por serem fáceis de empilhar e guardar. No entanto tem gente que vai te criticar se você tomar sua bitter ale ou stout numa taça, ignore. Evidente que o copo certo é importante e deve ser a primeira opção, mas se fosse essencial, por que os alemães, criadores de uma escola cervejeira, beberiam suas cervejas em canecas (chamadas mug e Stein), ou ainda numa “Das boot/bierstifel”, um copo em formato de bota? Por diversão, oras!

A cerveja sempre foi motivo de diversão, então não sejamos chatos. Se o copo ideal estiver à disposição, ótimo, caso contrário use o que achar. Basta ter em casa uma tulipa ou snifter, porque esses sim foram pensados para que a cerveja exale todos os seus aromas, um copo para weizenbier, por causa de sua capacidade de receber toda a garrafa, o que inclui os resíduos sólidos da refermentação e um cálice para as cervejas de abadia ou trapistas, que aliás também não foram projetados para as cervejas, apesar de serem excelentes pra isso, mas porque simplesmente é o formato tradicional usado na religião, o vinho também é bebido em cálices nos mosteiros. Ah, e quando forem a um bar que não tenha o copo certo, ou se forem acampar com seus amigos, ou ainda se estiverem na rua e não tiverem o copo certo, jamais deixem de beber e compartilhar a boa cerveja que tem em mãos. Saúde!


"Não sejamos chatos", propõe Vinícius H. Masutti (Foto: Arquivo Pessoal)

O autor por ele mesmo: Vinícius H. Masutti fez da cerveja sua área de estudo, trabalho e lazer. Encara o ofício como um processo de reeducação cultural, financeira e alimentar. Como também é metido na área da poesia e filosofia, une todas essas paixões e vê na cerveja arte e pensamento, por isso as compartilha.