Dicas do Viajante Cervejeiro

Perto de completar 1 ano na estrada Viajante faz balanço dessa aventura lupulada

Na Cervejaria da Corte, bar em Itaipava, distrito de Petrópolis/RJ (Foto: Divulgação)

Sarah Buogo

Beer Art 16 - mar 2015

A caminho de completar um ano em 1º de maio, a jornada do Viajante Cervejeiro vai compondo um retrato da cerveja artesanal pelo Brasil. Para mostrá-lo, a Beer Art procurou o publicitário e sommelier paranaense Edson Paulo de Carvalho Junior e revirou seu baú de memórias, descobertas e imagens dos 10 primeiros meses da travessia. Dele emergem dicas interessantes. Até o momento da entrevista (fevereiro/2015), já haviam sido percorridos 107 bares, em 54 cidades de 4 estados. O projeto − que pode ser acompanhado em www.viajantecervejeiro.com e Facebook, Twitter e Instagram − começou oficialmente em 1º de maio de 2014, em Porto Alegre (RS), e neste verão está no sudeste do país. De carona e buscando hospedagem gratuita, Edson Carvalho Jr pretende chegar ao Norte. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Beer Art − Como você avalia os primeiros 10 meses do projeto Viajante Cervejeiro?

Edson Carvalho Jr. − Superaram muito as minhas expectativas. Primeiro, porque eu achava que faria a viagem toda em um ano e já estou há 10 meses ainda no quarto estado. Isso reflete a quantidade de lugares cervejeiros que tem no Brasil. Em relação às pessoas, eu não imaginava que iriam me conhecer tão rápido e entender o meu trabalho.

Beer Art − Em seu site, você conta que no primeiro destino (Porto Alegre) você montou o roteiro a partir do Rate Beer e agregou outros locais depois, indicados pelos leitores. E, agora, como você monta o roteiro?

Chegada do Viajante em Angra dos Reis (RJ). Parada nesse bar não foi a trabalho e sim para refrescar o calor do verão após uma caminhada (Foto: Divulgação)

 

Edson − Ainda mantenho mais ou menos desse jeito. Sempre programo o próximo estado. Faço uma pesquisa na internet, monto uma lista e jogo na minha página. Lá, normalmente quem me acompanha é quem filtra sugerindo acrescentar ou tirar lugares. Sigo as orientações e, se valer a pena, tiro ou incluo bares e faço um roteiro final. Só que nunca é o final e, quando a cidade é muito grande, não tem como ver tudo, por isso vai muito da indicação e da oportunidade.

Beer Art − O que você encontrou de mais interessante e surpreendente nas visitas aos bares?

Edson − Teve um bar bem simples mas que eu achei bem interessante, aqui no Rio. Chama-se Yeasteria. Yeast, em inglês, é levedura, um dos ingredientes da cerveja, e tudo dentro do bar remete a um laboratório. A régua de degustação deles, por exemplo, simula pequenos copos de Béquer. Também já vi outros bares em que existia chope pré-pago, você deixa um chope pago para um amigo. O que mais me surpreende são as cidades pequenas que têm bares cervejeiros. Sempre falo de Ivoti, no interior do RS, com 20 mil habitantes, tem um pub muito legal. É uma cidade bem pequena e tem um pub com uma carta de cervejas bem grande muito interessante. Eu fui lá só para ir a esse pub e fiquei surpreso com a estrutura, com o lugar, com a dedicação. E como sobrevive um lugar como esse numa cidade tão pequena. Achei fantástico.

Beer Art − Considerando os estados pelos quais você já passou com o projeto, o que observou na qualidade do que está sendo produzido?

Edson − Tenho visto muita coisa boa, mesmo. Surgiram muitas cervejarias, mas com uma galera realmente preocupada em fazer boas cervejas. Obviamente houve coisas que não me agradaram, mas a grande maioria do que provei foram boas cervejas. O Sul, eu me refiro aos três estados, tem muita microcervejaria. E eu encontrei vários bares, aqui no RJ por exemplo, que só vendem cervejas nacionais. Isso reflete a própria qualidade das cervejas e do que estamos fazendo. Obviamente temos o que melhorar, principalmente na questão de equipamentos, mas pelo tempo que estamos fazendo cerveja acho que estamos em um caminho superlegal, superbacana.

Beer Art − Dos estados visitados, qual mais impressionou você do ponto de vista cervejeiro?

Edson − Essa pergunta é um pouco difícil. O Rio Grande do Sul e o Paraná até agora me surpreenderam bastante. O RS me surpreendeu porque foi onde eu comecei a viagem, esperava ficar um mês e acabei ficando dois. O Paraná, falam muito de Curitiba, onde a produção está mais concentrada, mas o interior já tem muita coisa legal. Francisco Beltrão, que não é uma cidade muito grande, tem um Brewpub. É muito bacana!

Beer Art − O estado de São Paulo é o seu próximo destino. O que você espera encontrar?

Edson − São Paulo dá até um pouco de medo, porque é muita coisa que tem lá. No estado em geral acredito que vou encontrar muito bar bacana focado na cultura cervejeira. Em relação à inovação, acho que vou encontrar muitos lugares diferentes. Tenho certeza de que vou encontrar muita gente fazendo cerveja e envolvida com o mercado cervejeiro.

Beer Art − Como é o seu contato com os bares, você marca antecipadamente?

Edson − Pego a minha lista e entro em contato com todos os bares, geralmente por facebook ou email. Sempre tento marcar porque gosto de conversar com o dono do bar para que ele me conte a história do local e para evitar chegar em um hórario ruim, em que ele não possa falar comigo. Algumas vezes, se não consigo agendar, acabo nem indo. Também, porque ofereço eventos de degustação com bate-papo cervejeiro. Faço uma parceria com o bar, cobramos ingresso, e uma parte do dinheiro vem para a manutenção da minha viagem. Então, faço contato antes, me apresentando e falando desse curso para termos tempo de divulgar no caso deles ocorrerem.

Curso ministrado em Blumenau/SC (Foto: Divulgação)

 

Beer Art − Como é o programa desses cursos?

Edson − No começo eu fazia um bate-papo mais técnico, explicando cada ingrediente. Percebi que o interesse do consumidor final não era de algo tão aprofundado. Aí comecei a mudar e as pessoas passaram a se interessar mais, comecei a falar de uma forma mais genérica, contando mais curiosidades, a cultura por trás da cerveja. Sempre faço uma analogia em relação ao vinho. As pessoas tomam vinho e querem saber qual tipo de uva, a região em que ela foi cultivada, qual vinícola, o processo que foi feito. Nesses bate-papos eu mostro que a cerveja também tem um história por trás, e é nisso que as pessoas se interessam.

Beer Art − Você sempre prova cervejas nas visitas?

Edson − Não necessariamente. Obviamente nunca nego uma cerveja que me ofereçam. Mas, como ainda não tenho apoio para essa viagem, tive apoios pontuais, precisaria de muito dinheiro para provar todas as cervejas. Geralmente o dono me oferece uma, mas se não me oferecer não tem problema nenhum, eu faço meu trabalho igual. Fico receoso de que as pessoas achem que estou lá para beber cerveja de graça, e o objetivo não é esse, a ideia não é essa. Tanto que muitas vezes faço o meu trabalho e vou embora, sem beber nada.

Beer Art − É difícil viajar e não aumentar a bagagem. Como você lida com o espaço limitado na mochila?

Edson − Não compro souvenir. Sempre fui de comprar muito pouco desde a minha primeira viagem. Prefiro gastar em comida e bebida porque acredito que é o que realmente fica. O souvenir depois você esquece na estante. Já ganhei alguns presentes, copos, taças, aí eu mando pelo correio para a casa da minha família. Camiseta, eu só carrego sete. Então, quando ganho uma, passo outra adiante.

*Beer Art − Diante das suas vivências com o projeto, como você avalia o atual momento do país em relação à cultura cervejeira? *

 

Edson − Estamos vivendo um período de transição. Teve um momento que a cultura da cerveja explodiu, qualquer mercado que você vai tem cervejas diferentes, todo mundo conhece alguém, um amigo de um amigo, que faz cerveja, abriram muitas cervejarias, bares. A partir de agora o mercado começa a amadurecer. Só fica quem realmente está fazendo cerveja boa, só novidade não vale. Acho que para se manter tem que ser profissional mesmo.

Beer Art − Até quando vai esse projeto?

Edson − Quero ver se em 2 anos consigo terminar o projeto pelo Brasil e aí começar a planejar um outro fora do país, só não sei onde ainda. Inicialmente pensei em ir até o norte e descer pelos países vizinhos, depois eu pensei também nos EUA, mas ainda não decidi. Com certeza vou estender para outro lugar porque esse agora é o meu trabalho. Isso não quer dizer que eu vá continuar viajando de carona, dessa forma.