O balanço do Mondial de La Bière Rio

Enviado especial ao Mondial de La Bière Rio 2013 faz uma avaliação do evento

Mondial de La Bière no Rio conquistou o público (Foto: Divulgação) 

 

SUCESSO DE PÚBLICO E DE CONSUMO

A primeira edição brasileira do Mondial de La Bière levou mais de 20 mil pessoas à Praça Onze, no Rio, entre 14 e 17 de novembro. O perfil e o volume de pessoas superaram as expectativas da organização e dos expositores, que tiveram de repor os estoques durante o festival para atender ao público sedento até o último dia. De diversas faixas etárias e perfis, os fãs da cerveja especial fizeram a festa ao degustar os mais de 650 rótulos de cervejas nacionais e importadas.

 

CULTURA EM EXPANSÃO

São pessoas como Gersica Aroni Melchiades, 22 anos, acadêmica de Farmácia na Universidade Federal Fluminense (UFF) em Niterói. “O que eu mais gostei é que há muita cerveja boa, muitas cervejarias”, conta. Ela participou do evento no sábado (16) e no domingo (17) e diz que já se interessava por cervejas especiais antes. “Comecei de forma bem natural, bebendo cervejas com amigos de faculdade, e fui entrando no universo das artesanais. Penso até em trabalhar com isso no futuro”, diz. “Quando vi que ia acontecer esse evento aqui no Rio, cheguei à conclusão de que não poderia deixar de vir.”

Marcelo Granja, 25 anos, natural de Blumenau (SC), mas hoje morador de Niterói e pesquisador da UFF na área de veterinária, diz que também gostou do evento. “Sou de uma região que já tem muita cerveja artesanal. E não poderia deixar de vir”, diz. “Blumenau é muito conhecida pela Oktoberfest e cheguei a imaginar que o evento seria mais festeiro. Mas é diferente. Aqui tive a oportunidade de conhecer a cerveja em si, quem fabrica, o objetivo e muito mais”, enfatiza. “Se tiver uma segunda e terceira edição, eu vou estar presente com certeza.”

 

AGORA É FIRMAR NO CALENDÁRIO

Não há nada definido ainda sobre as próximas edições brasileiras do Mondial de La Biére, que já acumula duas décadas de festival em países como Canadá e França, mas segundo Victor Montenegro, diretor do evento no Brasil, o sentimento após a realização desse primeiro evento é muito positivo. “Queremos firmar esse evento no calendário nacional e da cidade. Autoridades da prefeitura do Rio vieram ao festival supermotivados pelo produto, visitação e tipo de público”, diz.

Ainda de acordo com Montenegro, esse bom sentimento ao final é fruto de trabalho duro e muita dedicação da equipe do evento e dos expositores. “Foi muito difícil, não vou negar. Toda a preparação e os percalços no caminho, como a mudança de local poucos dias antes do evento, deixaram tudo muito complicado. Mas no final o sentimento de realização e o reconhecimento compensam o esforço.”

Parceria internacional: Victor Montenegro (esq.), antes da premiação, e Jeannine Marois (dir.), presidente do Mondial de La Bière (Foto: Luís Celso Jr.)

Para ele, um dos grandes pontos positivos foi o clima de festa, descontração e respeito. “Você vê as pessoas aqui sem nenhuma confusão, sem discussão, estão todos rindo e se divertindo. Várias brincadeiras que aconteceram aqui, como os gritos a cada copo que caia no chão, acontecem da mesma forma no Canadá. Ou seja, a cultura cervejeira faz com que as pessoas falem a mesma linguagem em diversos países mesmo que nunca tenham se encontrado. E isso é muito bacana.”

 

O PÚBLICO DEU SHOW

Jeannine Marois, presidente do Mondial de La Bière, conta que se surpreendeu com o público mais maduro e de melhor nível sociocultural comparado às edições em Montreal e Mulhouse, na França. O evento brasileiro criou uma grande oportunidade para o público conhecer as cervejas nacionais e internacionais, e essa visibilidade pode servir de mão dupla, abrindo caminho para as cervejas brasileiras serem mais conhecidas lá fora e até exportadas. “Mais vozes estão falando sobre as cervejas especiais.”

 

EXPOSITORES TIVERAM DEMANDA 

Marcelo Carneiro, da Colorado, e Samuel Cavalcantti, da Bodebrown (Foto: Luís Celso Jr.)

Expositores se dizem satisfeitos. Apesar de cansados após quatro dias de intenso trabalho, o sorriso era inevitável e os barris de chope vazios na volta para casa, sinal de que agradaram ao público. “Estou achando o evento excelente. Estou admirado”, diz Marcelo Carneiro, proprietário da Cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto (SP).

A cervejaria vendeu cerca de 1,5 mil litros de chope e 600 garrafas de 600 ml e teve de providenciar mais para atender ao público até o último dia. “Pelo número de pessoas a gente já bate o evento francês, que tem 15 anos de realização. Acho até que no futuro a gente pode bater os canadenses e conseguir 80 mil pessoas para o Mondial de La Bière Rio”, aposta.

“O evento superou em muito a expectativa dos expositores”, conta o sommelier de cervejas José Padilha, também diretor do e-commerce Beer Planet, patrocinador do Mondial no Brasil. “É muito positivo a gente ver essa massa de pessoas que estão aqui interessadas por cervejas especiais, pela primeira vez na maioria dos casos. É a democratização da cerveja especial”, diz. “Esse evento já é maior do que a Brasil Brau, do que a edição francesa do Mondial e mostra que o carioca, diferentemente do que muitos pensam, também está muito focado e experimentando cervejas especiais de qualidade”, acrescenta.

 

TRABALHO DURO

Felipe, da Wäls, recebe a medalha Platinum enquanto dá notícia para a família ao celular (Foto: Luís Celso Jr.)

Tiago Carneiro, da cervejaria mineira Wäls, enfatiza o trabalho duro de todos, organização e expositores, para trazer o Mondial de La Bière para o Brasil e realizar da melhor forma possível. “Esse festival dá uma grande visibilidade para nós no mercado interno e internacional. Facilita demais o nosso trabalho. Acho que cadeia produtiva toda ganha com isso”, diz. A cervejaria levou 600 litros de cerveja e precisou buscar mais 200 litros para atender ao público até o final.

Após mais de 1,8 mil litros de chope vendidos, Marcellus Leal de Abreu, sócio da cervejaria Mistura Clássica, do Rio, se diz surpreso com a adesão do público carioca ao Mondial. “O evento me surpreendeu muito. Não achei que teria essa visibilidade não, ainda mais aqui no Rio de Janeiro, cidade dominada pelas American Lagers comerciais”, avalia. “O pessoal conhece as cervejas e sabe o que está tomando”, completa.

Segundo Tatiana Spogis, diretora de marketing da importadora Bier & Wein, o evento está aprovadíssimo, principalmente por possibilitar um grande contato com o consumidor final das cervejas. “É um foco grande no varejo e ver o quanto esse pessoal gosta das nossas cervejas é muito bom”, diz. A mesma opinião é compartilhada por David Michelsohn, da cervejaria Júpiter. “A maneira como a organização tratou a cerveja aqui é como protagonista. E isso é ótimo. E o público veio muito interessado. Querem saber mais sobre o que estão tomando, sobre a cerveja e seu processo”, diz.

 

PERCALÇOS

Em um festival de grandes proporções é comum que existam alguns problemas. O calor na tenda de exposição foi um deles, e os ventiladores não deram conta de refrescar o público principalmente no sábado, dia de temperaturas muito altas no Rio. Algumas filas aconteceram, principalmente para comprar fichas, e a pequena opção de pontos de alimentação também foi um item criticado pelo público.

 

TAXA PESADA

Da parte dos expositores, muitos reclamaram sobre a taxa de 50% sobre a venda de produtos cobrada pelo festival, além da emissão da nota fiscal. Os custos, dizem eles, ficaram muito altos, pois ainda arcaram com a compra e montagem dos estandes, além do trabalho e até equipe para atender o público nos quatro dias de evento – o que soma custos de hospedagem, transporte a alimentação.

Samuel Cavalcanti, da cervejaria Bodebrown, elogiou muito o evento e a organização. Segundo ele, foram mais de 1.650 litros de cerveja vendidos só no estande da sua cervejaria. No entanto, diz que a política financeira carece de ajustes. “É óbvio que toda a organização trabalhou muito bem, o festival está muito bem montado, com estrutura, comida, bebida, segurança, mas a gente que vem de longe as vezes não é tão fácil. Então, talvez para os próximos eventos a organização pudesse pensar em arrumar algum caminho que seja mais favorável para facilitar a vinda de outras cervejarias, que foram impedidas pelas circunstâncias”, completa.

 

LIÇÃO DE CASA

Victor Montenegro, diretor do evento no Brasil, diz que ajustes podem ser feitos e as políticas podem ser repensadas. “Acho que, no final, pela adesão que tivemos, as empresas entenderam qual era a proposta do evento. Das 22 feiras que fazemos por ano, são poucas em que os expositores têm retorno na venda em varejo. No final, a gente sempre trata a feira como uma poderosa ferramenta de marketing, onde a empresa entra para aumentar o volume de vendas dela ao longo do tempo e não só o resultado imediato”, conta. “Mas é claro que, se a gente conseguir outro jeito de poder viabilizar esse evento da forma como a gente quer, com a qualidade que a gente quer, podemos sem dúvida facilitar a adesão das microcervejarias”, conclui.