Else Beer, uma novidade capixaba

Conheça uma cervejaria artesanal pioneira no Espírito Santo

A Else Beer é a primeira artesanal do Espírito Santo (Foto: Daniel Hirschmann/Beer Art)

A Else Beer é a primeira artesanal do Espírito Santo (Foto: Daniel Hirschmann/Beer Art)

Daniel Hirschmann
(textos e fotos)

Beer Art 2 - out/nov 2013

Viana (ES) - Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve no Espírito Santo para a primeira extração simbólica de petróleo da camada do pré-sal, em setembro de 2008, o empresário José Olavo Medici acompanhou tudo de perto. Bem de perto. Foi sua empresa, especializada em eventos corporativos, que organizou a cerimônia e preparou a estrutura onde a comitiva presidencial, autoridades, empresários e imprensa se reuniram para discursos, coquetel e entrevistas de praxe. Palco, mesas, bifê, sala de imprensa, banheiros, cada detalhe tinha de estar sob controle, cumprindo os padrões exigidos. Hoje, cinco anos depois daquele dia histórico, este empresário de 53 anos dedica a mesma atenção e o mesmo cuidado a um sonho que está se tornando realidade: fazer uma cerveja artesanal com sabores e aromas diferenciados, capazes de conquistar tanto aqueles que já têm experiência quanto os que estão dando os primeiros passos, ou goles, no mundo das cervejas especiais.

Else Beer (Foto: Daniel Hirschmann/Beer Art)

Else Beer (Foto: Daniel Hirschmann/Beer Art)

Em um sítio no município de Viana, a cerca de 30 km do centro de Vitória, José Olavo comanda a Else Beer, a primeira cervejaria artesanal capixaba com registro no Ministério da Agricultura, obtido em julho deste ano. O feito dá uma ideia da seriedade com que o empresário trata o novo negócio, apesar de não ter ansiedade por lucros dele – a empresa de eventos vai muito bem, obrigado – e de manter a mesma paixão da época em que, como tantos outros, fazia cerveja em panelas, em casa, para consumo próprio e com amigos.

Ao lado dele, estão o genro, o cervejeiro prático Peterson Loan Ribeiro, 21 anos, e um dos funcionários da empresa de eventos, Antônio Leôncio Martins, de 57, autodenominado “auxiliar de aprendiz”. Juntos, eles operam da brassagem ao engarrafamento e rotulagem, com conhecimentos sobre filtragem e fermentação e todo o processo da fábrica.

José Olavo foi o primeiro a dominar os equipamentos, pois não tinha condições de contratar um cervejeiro prático.

José Olavo Medici (Foto: Daniel Hirschmann/Beer Art)

José Olavo Medici (Foto: Daniel Hirschmann/Beer Art)

Depois, ensinou tudo ao genro, que agora controla os processos nas bombas de mistura e lauter, faz testes com iodo e verifica a densidade, anotando os resultados em fichas de controle, que atestam o padrão alcançado pela cerveja. Enquanto isso, o produto transferido da bomba de mistura passa pela filtragem, que não é intensa, mas busca basicamente tirar o fermento da cerveja para resultar em uma bebida de um dourado quase transparente, sem nenhum aditivo químico ou conservante em sua composição. Apenas malte, lúpulo, fermento e água.

A sala de bombas, tanques e máquina de engarrafamento fica tomada por um leve aroma do pilsen usado na fabricação da Clássica, a blonde ale da Else Beer. O ambiente é tranquilo, quase silencioso, não fosse por alguns barulhos típicos das máquinas e umas poucas conversas entre os cervejeiros. Algo impensável há pouco mais de dois anos, quando ali ficava um galpão usado para abate de animais, e os cheiros e ruídos eram outros.

Else Beer (Foto: Daniel Hirschmann/Beer Art)

Else Beer (Foto: Daniel Hirschmann/Beer Art)

 

As estrelas se chamam

Clássica e Jacarandá

A transformação do local nasceu, em parte, dos elogios e do incentivo dos amigos com quem José Olavo dividia suas descobertas e primeiras experiências no campo das cervejas especiais. Motivado, ele visitou a feira Brasil Brau, em 2011, decidido a comprar máquinas que permitissem produzir mais. Chegou a São Paulo pensando em 50 litros. Na volta para casa, era proprietário de equipamentos para 250 litros. “Foi uma atitude completamente irresponsável. Botei a emoção na frente da razão. Talvez, se tivesse feito as contas, não teria investido numa cervejaria de 250 litros”, admite.

Com ou sem contas, o negócio avançou. Entre obras, equipamentos e investimento total de R$ 300 mil, aquele velho galpão no sítio da família deu lugar à microcervejaria de 600 m², com uma área gourmet para visitantes, cercada por morros e árvores, ao som do canto de pássaros, na região da Pedra da Mulata, distante apenas 6,5 km da sede de Viana. A localização permite o uso, em todo o processo, de água que brota a 49 metros de altura, de uma fonte totalmente protegida. Potável, translúcida, inodora e mole, a água utilizada na fabricação da Else Beer tem grau 5 de dureza, o que indica a baixa quantidade de minerais que poderiam afetar o produto final e representa um custo a menos para eliminá-los.

A capacidade instalada é para uma produção de 2,5 mil litros por mês. Na linha de frente, além da blonde ale Clássica, está a dry stout Jacarandá, feita com maltes especial B, chocolate, black, vienna e pilsen. O nome faz referência à existência de grande quantidade dessas árvores de cor escura na região da fábrica, e a uma comunidade homônima, próxima dali.

Com o pé no chão

mas com paixão

Se a água usada é insípida e inodora, a bebida que brota dos tanques da Else Beer privilegia o aroma dos maltes e leva lúpulo somente para o amargor. Percebe-se o gosto do café, do chocolate, do especial B, que lá no fundo dá um sabor de ameixa, mas com leveza. “Tem que respeitar o produto. Não gostaria de tomar uma cerveja com gosto de laranja. Ter uma laranja no fundo, um biscoito no finalzinho, um mel, isso sim. Mas tomar e já vir o gosto de cravo, não. Não quero tomar cravo. Quero tomar cerveja. Se ela me der a possibilidade de, muito singelamente, mostrar esses toques, essas variações, é legal”, justifica José Olavo.

O teor de 5%, espuma grudando na lateral da taça e o visual até apontam para uma cerveja bem encorpada, mas a Else Beer espera surpreender. “Se você chegar com uma cerveja com 8, 9 ou 10% de álcool e um amargor elevadíssimo, sabor de cravo ou de canela, a pessoa vai tomar e não vai querer nunca mais”, pondera o empresário. “Não quero uma situação dessas. Quero fazer um produto equilibrado, que não agrida o paladar de quem está começando, mas que ele saiba que está tomando um produto diferenciado.”

José Olavo acredita que a Else Beer já alcançou esse padrão desejado. A estratégia agora é consolidar a Clássica e a Jacarandá e só então partir para outras variedades, podendo chegar a uma linha de pelo menos cinco tipos de cerveja, além de ampliar a fábrica – e aí, sim, pensar em lucros. A comercialização ainda está focada no Espírito Santo, em pontos de público A e B, mas a tendência é expandir as vendas, aproveitando o momento favorável das cervejas especiais. Tudo paulatinamente, com pé no chão e acompanhando de perto, para ter uma evolução tranquila, no melhor estilo do empresário que, há cinco anos, arrancou elogios da equipe do Palácio do Planalto. “Sem perder a característica de ser uma cerveja realmente artesanal, tendo controle total do que estamos fazendo e colocando no mercado”, destaca.

A capacidade instalada é para 2,5 mil litros por mês (Foto: Daniel Hirschmann/Beer Art)

A capacidade instalada é para 2,5 mil litros por mês (Foto: Daniel Hirschmann/Beer Art)