Colheita de lúpulo ganha reforço de máquina em SP

Segunda safra do insumo cervejeiro na fazenda experimental ocorre até julho

Máquina peladora recém-chegada à Silver Hops e cedida pela Ambev (Foto: Ambev/Divulgação)

Atualizada, 3/06/2022, 12:00

A Agritech Silver Hops recebeu em 23 de maio mais um investimento que acompanha o programa de inovação para ampliação e melhoria na produção de lúpulo brasileiro: uma máquina peladora que limpa e separa mecanicamente os cones de lúpulo de folhas, galhos e impurezas. O equipamento chega como apoio para a produtividade da segunda safra da fazenda experimental, cuja colheita ocorre do final de maio até julho.

Com a chegada da máquina, a Silver Hops, inserida na Fazenda Pratinha, na região da Alta Mogiana, em São Paulo, e integrante do projeto Fazenda Santa Catarina, da Ambev, parte para uma nova fase. Agora, a agritech conta também com a parceria científica de Pablo Forlan Vargas, professor da pós-graduação em Agronomia na área de melhoramento genético da Unesp - Jaboticabal, e do estudante de agronomia Julio Cesar Paim.

Segundo Vargas, o trabalho desenvolvido envolve suplementação de luminosidade via diferentes luzes de LED e cobertura de solo. O intuito é avaliar o impacto que essas variantes apresentam no desenvolvimento quantitativo e qualitativo das plantas.

"Com o engajamento da Silver Hops em pesquisa, creio que os resultados obtidos darão suporte à expansão do cultivo de lúpulo em regiões tropicais, como a nossa. E isso é de suma importância para o desenvolvimento do lúpulo no País”, explica. “O melhoramento genético não se refere apenas à produção, mas à qualidade também, porque a indústria cervejeira demanda padrões qualitativos para a utilização desse lúpulo."

Para ele, o desafio é grande, porque poucos são os trabalhos realizados no Brasil com suplementação de luz e cobertura de solo:

"Esperamos em breve ter resultados interessantes para serem disponibilizados, não só junto à comunidade científica, mas também a todos os produtores de lúpulo brasileiro, principalmente àqueles que estão em regiões similares à nossa Alta Mogiana."

Segundo Stefano Kretzer, agrônomo e responsável técnico pela Silver Hops, os resultados têm surpreendido desde o início do plantio, em dezembro de 2021:

“Estamos tendo desenvolvimento além das expectativas, plantas com bom manejo e bem nutridas, expressando grande produtividade e qualidade.”

O ciclo de plantio fica entre 100 a 120 dias, sendo esta a segunda colheita da fazenda, seguindo do final de maio até julho.

São esperados cerca de 300g de lúpulo seco por planta, com variações dentre os 10 cultivares diferentes, ou seja, produção de 400 a 800kg por hectare. O lúpulo será peletizado na própria fazenda e, após o beneficiamento, seguirá para as fábricas da Ambev.

“Após a colheita, esperaremos este período de inverno e, em agosto, começamos um novo ciclo novamente”, explica o agrônomo.

A Silver Hops

A produção de lúpulo brasileiro ganhou reforço em dezembro. A iniciativa de fomento e incentivo à cultura de lúpulo da Ambev fechou uma parceria que amplifica sua atuação, agora no Estado de São Paulo. Ao lado da agritech Silver Hops, implantada na Fazenda Pratinha, na região de Ribeirão Preto, a companhia pretende ampliar a produção de lúpulo genuinamente nacional e realizar pesquisas de desenvolvimento à cultura do insumo cervejeiro.

A Silver Hops nasceu com a missão de implementar soluções de alta tecnologia no cultivo de lúpulo e colaborar para o desenvolvimento da produção nacional do ingrediente, muito em linha com o que já vendo sendo realizado pelo Projeto Fazenda Santa Catarina desde 2020, em Lages, com o principal objetivo de estimular a agricultura familiar. A expectativa é de que, com essa parceria, sejam criadas possibilidades para o cultivo e desenvolvimento de lúpulo nacional de qualidade em outros estados.

Em 2020, quase 100% do lúpulo utilizado para produção de cervejas nacionais foi importado, seguindo a oferta de mercado para grandes cervejarias e artesanais. Hoje, o projeto Fazenda Santa Catarina, da Ambev, vê uma possibilidade de alavancar este cenário, como conta Felipe Sommer, coordenador do Projeto Fazenda Santa Catarina da Ambev:

“Estamos trabalhando integrados para garantir uma produção de lúpulo nacional de altíssima qualidade. Estamos acelerando esse processo com parcerias que possuem sinergias entre si e com um ecossistema engajado em trabalhar dia e noite para propiciar as melhores condições para o desenvolvimento de um lúpulo com qualidade no Brasil.”

A parceria também é vista com otimismo por José Virgílio Braghetto Neto, responsável pela Silver Hops e que hoje integra o ecossistema de inovações e projetos disruptivos da Ambev:

“Nosso papel será complementar ao trabalho que já está sendo feito com a agricultura familiar, trazendo ainda mais o olhar da pesquisa e da inovação. Com essas duas frentes, poderemos gerar transformações importantes na cadeia de produção cervejeira e no agronegócio responsável brasileiro.”

Segundo Sommer, o projeto deverá seguir um calendário de ações que visam eliminar as barreiras que atualmente impedem a evolução da cultura:

“Começamos desenvolvendo mudas com comprovação de origem, construímos uma planta de beneficiamento, criamos um modelo de fomento e incentivamos o uso do lúpulo nacional pelas microcervejarias. Entre os próximos desafios estão a regulamentação da cultura e ampliação de acesso ao crédito. O foco é desenvolver e escalar a produção do lúpulo brasileiro com apoio da Fazenda Pratinha, produtores, universidades, Aprolúpulo e outros envolvidos.”

Em agosto de 2021, um passo foi dado à verticalização da cadeia cervejeira. A Lohn Bier lançou uma cerveja totalmente brasileira, a Toda Nossa, uma Brazilian Pale Ale, com lúpulo, cevada e leveduras 100% nacionais, especificamente de Santa Catarina. Além da Toda Nossa, a Lohn Bier produz regularmente a Green Belly, produzida com lúpulos nacionais. A Colorado, outra marca do portfólio Ambev, também utilizou o lúpulo brasileiro em sua recente Hop Lager da Linha Brasil com S, que leva tapioca na receita.

Mais tecnologia na lavoura de lúpulo

Em setembro, a Ambev havia anunciado que, em parceria com a startup ManejeBem, levaria mais tecnologia às lavouras de lúpulo com uma ferramenta inteligente, capaz de promover melhor desempenho dos pequenos agricultores em sua cadeia produtiva.

Foi mais um passo para impulsionar a agricultura familiar do Estado de Santa Catarina, onde, em 2020, foi criado o Projeto Fazenda Santa Catarina, que fomenta o cultivo de lúpulo em solo brasileiro. Agora, a comunidade local, que já é beneficiada com as mudas da flor, infraestrutura, auxílio técnico e contrato de compra do ingrediente, contará também com a expertise da ManejeBem, descoberta e acelerada pela própria companhia em 2019, por meio do programa Aceleradora 100+, para melhorar o manejo agrícola e aumentar a produtividade de suas produções.

Com uma plataforma acessível e intuitiva, a ManejeBem conecta especialistas a produtores, facilita a assistência técnica, compartilha dicas sobre como plantar e colher, auxilia no planejamento da safra do ano e contabiliza os resultados esperados com aquela plantação, considerando indicadores sociais, ambientais e agronômicos. Além disso, com a ferramenta, os agricultores passam a contar com relatórios de gestão do negócio todos os meses.

Felipe Sommer, coordenador do Projeto Fazenda Santa Catarina da Ambev, contou na ocasião do lançamento:

"Estamos lidando com o desenvolvimento de um insumo que, até pouco tempo, era desacreditado de ser produzido com qualidade no Brasil. A Fazenda Santa Catarina vem conectando os principais atores do cenário do lúpulo nacional (Aprolúpulo, Secretaria da Agricultura, EPAGRI e universidades), que vêm sendo responsáveis pelo desenvolvimento da cultura. Com essa nova plataforma tecnológica, conseguiremos levar todo esse conhecimento para os nossos produtores no campo para que eles tenham resultados cada vez melhores e que as boas práticas sejam compartilhadas."

O Projeto de lúpulo em Santa Catarina

Ao longo de um ano e meio, o Projeto Fazenda Santa Catarina trouxe quatro variedades de lúpulo para o país e, após testes de manejo e avaliação do potencial agronômico, começou a produção e doação de mudas para os produtores. Todo o lúpulo produzido foi utilizado na produção de novas cervejas, como a Green Belly, a Brazilian Blonde Ale, e a TodaNossa. Para os próximos anos , o projeto espera impactar cerca de 200 famílias.

A parceria entre a Ambev e ManejeBem tem rendido bons frutos. O piloto entre as empresas começou com o Projeto Roots, que estimula o uso de matéria-prima local para o desenvolvimento de novas cervejas, em estados como Maranhão, Ceará, Pernambuco, Piauí e Goiás. Com o impacto positivo do projeto frente às famílias participantes, que cresceu 250% desde sua criação, a companhia trouxe o mesmo modelo de atuação da startup agora para a região Sul do país.

A agritech Silver Hops está instalada na Fazenda Pratinha, na região de Ribeirão Preto (Divulgação)