Cervejas ácidas ativam a Morada do futuro
/Transformação da cervejaria curitibana se estende a outras fronteiras e bebidas
ALTAIR NOBRE
Apropriada para harmonizar com um momento histórico da Morada Cia Etílica, a degustação de uma sour de inspiração belga mas com o brasileiríssimo cupuaçu abriu a apresentação. No comando do projetor, André Junqueira converteu o pub em auditório, no Happy Hour desta sexta-feira, 28. Detalhou as novidades já consumadas e os projetos em andamento que sacodem esta cervejaria cigana de Curitiba (PR), tradicionalmente inquieta, como a cabeça fervilhante de seu mentor. O evento no Biermarkt Vom Fass, no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS), a ser repetido em outras cidades pelo Brasil, se mostrou bem mais do que uma ação promocional. Permitiu antever o futuro de uma das mais criativas e influentes cervejarias do renascimento artesanal no Brasil, que a Beer Art descreve a seguir.
A Morada lança uma coleção chamada "Delícias Ácidas de Verão", aberta por três cervejas engenhosas: a Cupucuaçu Sour, a CDB e a Abera Base. Essa série reforça a parceria de Junqueira com o também cervejeiro cigano Brian Strumke, da marca americana Stillwater. A primeira, uma "Oatmeal Berliner Saison" com a fruta de origem amazônica parente do cacau, combina polpa fresca enviada por via aérea de Ilhéus (BA) e a fermentação com levedura Saison. Como é extra seca, e assim poderia ficar muito aguada, a aveia a deixa mais encorpada.
Um detalhe importante é a técnica. "Você acidifica o mosto, e não a cerveja", explica Junqueira. "Prepara o mosto, 'azeda' o mosto, e depois faz a fermentação com a levedura. Dessa forma, não precisa esperar envelhecer a bebida por dois, três anos. Apesar de não ganharem a complexidade das envelhecidas, a experiência muito interessante também. São bebidas diferentes, não se trata de uma tentativa de cópia."
Os outros dois rótulos de estreia da coleção também são resultado de experimentação em nível semelhante. A CDB é uma "Oatmeal Gose Saison com limão e dry hopping de Sorachi Ace", e a Abera Base, uma "Rye Strong Golden Sour" (esta foi desenhada para ser uma champenoise, mas não passa pela longa maturação, por isso o termo "base"). Os nomes são curiosos: a sigla remete ao folclórico cu-de-burro, mistura de suco de limão com sal degustada em copo separado para que a cerveja parecer mais doce, enquanto abera é uma nova gíria para cerveja, como breja, ceva e cerva.
Os novos projetos
Produção nos EUA
A Morada ruma para os Estados Unidos. Em articulação com outras cervejarias, não apenas a Stillwatter, Junqueira passará a produzir também no gigante mercado americano. Há contrato fechado para produção em uma fábrica no Colorado, dentro de uma estratégia de expansão que vai dar escala e facilitar a distribuição das cervejas da Morada por dezenas de estados.
Produção na Bélgica
Parcerias com cervejeiros de outros continentes também vão continuar, como a estabelecida com a lendária Fantôme, da Bélgica, que resultou em uma Saison com ingredientes brasileiros, como Jambu, Cubeba, Iquiriba, Puxuri, Cumaru-tonka e Amburana. A previsão é que a Fantôme/Morada Tonka chegue ao Brasil em novembro.
Sidras
Como o nome é Morada Cia Etílica, e portanto não se restringe a cervejaria, Junqueira prepara para lançar ainda em 2015 uma linha de sidras de fermentação espontânea, envasadas em long neck. A produção ficará a cargo pela Piagentini, em Caxias do Sul (RS), com maçãs das serras gaúcha e catarinense. Os três primeiros produtos serão uma sidra de abacaxi com hibiscus, uma de melano e amburana e uma lupulada, com dry hopping de lúpulos aromáticos.
Hidromel
Com produção em conjunto com a Vinícola Franco-Italiano em Colombo (PR), uma linha de hidromel está prevista para o inverno de 2016. Usará mel de floradas nativas, de produtores do Paraná, de Santa Catarina e de São Paulo, com ingredientes brasileiros.
Destilaria
Um dos projetos mais ambiciosos envolvendo a Morada é uma linha de destilados de inspiração amazônica, em parceria com a cervejaria Cabôca, em Belém do Pará. Vai operar junto ao brewpub em casario do século 18, em frente à Estação das Docas, a ser inaugurado em 12 de janeiro de 2016, dia em que Belém vai comemorar seus 400 anos.