As madeiras, os bastardos, os polacos e las mafiosas

O terceiro dia de festival, sob a análise do jornalista e sommelier Luís Celso Jr.

A Witbier da Bastards que conquistou o segundo lugar na disputa pelo título de Cerveja do Ano (Foto: Ricardo Jaeger/Beer Art)

 

Luís Celso Jr.

Especial para a Beer Art

Blumenau - As cervejas maturadas ou envelhecidas em madeira são uma tendência que vem se consolidando no Brasil nos últimos anos. Muitas das melhores novidades do Festival Brasileiro da Cerveja do ano passado estiveram dentro dessa categoria. Neste ano, o número de inovações foi ampliado. Há mais cervejas ácidas, com sidra, saquê, hidromel, ervas, etc. Essa especialidade não foi esquecida, e as cervejas continuam fazendo bonito no evento.

E, por falar em fazer bonito, troquei algumas palavras rapidamente com o pessoal da Bastards, que levou o segundo lugar na Melhor Cerveja de 2015 com a Witbier Jean Le Blanc, e com os maringaenses da RedCor, que levou o terceiro lugar com a Ryequeoparta. Além disso, ainda provei as novas cervejas da mineira Bäcker que participam do projeto internacional Las Mafiosas e as cervejas polenesas do estilo Grodziskie. Isso tudo em um dia de movimento intenso na sexta-feira, 13. Confira:

Madeira!

As madeiras são sempre um desafio saboroso no festival. Como esse tipo de cerveja costuma ter sabores mais intensos e alcoólicos, as degustações devem ser moderadas e espaçadas. Mas consegui provar um pouco do que há de melhor no evento.

Uma delas é a Dama Bier Reserva 05, uma cerveja feita da união, do blend, de amostras maturadas em diferentes barris. Ela foi lançada em comemoração aos 5 anos da cervejaria da Piracicaba. Uma parte foi maturada em barris de carvalho francês que envelheceram vinho fortificado, whiskey e cahaça. A outra, maturou em barril de Amburana virgem - sem ter sido usado em nenhuma bebida antes.

O resultado é uma cerveja complexa, com notas marcantes de Amburana com tosta média. De cor marrom escura, apresenta leves notas frutadas, tendendo a frutas passas, caráter maltado e leve picância. O sabor é adocicado, corpo cheio e baixa carbonatação, repetindo o aroma e com final doce. No aftertaste, mais madeira, picância e leve aquecimento do álcool − afinal, são 10,3% ABV.

Uma experiência interessante foi feita pela DUM Cervejaria, que envelheceu sua Imperial Stout Petroleum em três barris diferentes − Amburana, Castanheira e Carvalho Francês − por seis meses. Cada uma das cervejas ganhou notas amadeiradas distintas, sendo a Amburana a mais marcante. Uma forma bem legal de curtir as diferenças e aprender a diferenciar esses sabores.

Vale menção também a Wäls, que envelheceu sua Petroleum por 11 meses em barril de carvalho. O resultado é completamente diferente da DUM, mas igualmente agradável e marcado pela madeira − com baunilha acentuada.

A Imperial Stout Petroleum da DUM foi envelhecida por seis meses em três barris diferentes, e a experiência ficou interessante (Foto: Divulgação)

Bastards e RedCor

Premiada com o segundo lugar na categoria Melhor cerveja no concurso, com a deliciosa Jean Le Blanc, uma Wibier clássica e refrescante muito bem finalizada, a Bastards ganhou projeção de celebridade no Festival Brasileiro da Cerveja neste ano, com direito a fila no estande em todos os dias. Os sócios − Francisco Seegmueller, Richard Buschmann e Humberto Gonçalves − se dizem satisfeitos por tamanho reconhecimento pouco mais de um ano após o início das operações. A Bastards também teve a sua cerveja Pina a Vivá, uma India Pale Lager, premiada no Mondial de La Bière do Rio de Janeiro em 2014.

Também tive a sorte de esbarrar com o pessoal da RedCor, que ganhou o terceiro lugar. Eles estavam passeando pela feira aproveitando as novidades, mas não tinham estande no evento. São uma cervejaria cigana, que produz na Cervejaria Araucária, em Maringá, no interior do Paraná. Eles não esperavam ganhar o prêmio. David Redmerski Junior, sócio da cervejaria, disse que a surpresa foi grande, e que está feliz com o desenvolvimento e a premiação das cervejarias do norte do estado − a Cathedral também foi premiada no evento. Agora é correr para produzir em escala a Ryequeoparta, uma Black Rye IPA com mais de 100 IBU (unidades de amargor), que está em fase de protocolo do registro no Ministério da Agricultura.

Las mafiosas mineiras

Outras cervejas muito bacanas degustadas são da nova série da Cervejaria Bäcker, de Minas. São três rótulos produzidos com a mestre-cervejeira Alex Nowell, sócia da microcervejaria norte-americana Three Weavers Brewing: Corleone, uma Imperial Red Ale; Diabolique, uma American India Pale Ale; e Tommy Gun, uma Double IPA com 8,4% de teor alcoólico.

A Diabolique é cítrica, o que lhe dá ótmo drinkability e refrescância (Foto: Divulgação)

Provei as duas primeiras. Corleone surpreendeu com aromas cítricos misturadas ao maltado caramelo que dá base à Red Ale. O resultado são notas entre maracujá e goiabada, que conquistam o paladar, com sabor adocidado mas bem equilibrado pelo amargor do lúpulo. Já Diabolique é mais cítrica (leva limão capeta e laranja na composição), que lhe dá ótimo drinkability e refrescância, bem equilibrado com amargor limpo e agradável.

Os poloneses

Um estilo de cerveja original da Polônia esquecido no tempo, Grodziskie é feito 100% malte de trigo defumado em carvalho. Dá origem a cervejas claras, leves, defumadas e de baixo teor alcoólico, ideais para refrescar com sabor. Duas cervejas desse estilo marcaram presença no Festival Brasileiro da Cerveja. Uma lançada oficialmente pela curitibana Bodebrown e outra feita pelo cervejeiro Evandro Zanini, parte de uma experiência colaborativa com outras cervejarias. Ambas muito saborosas e exóticas. Vale ficar de olho nos próximos passos desses rótulos para provar o quanto antes.

Concurso Mestre Cervejeiro

Anderson Faller apresenta Ventura, a Blond Ale com que venceu o Concurso Mestre Cervejeiro 2014 (Foto: Ricardo Jaeger/Beer Art)

 

Na quarta-feira, primeiro dia do festival, também houve o lançamento oficial da nova Eisenbahn, a Ventura, Blond Ale vencedora do Concurso Mestre Cervejeiro de 2014, de autoria do cervejeiro caseiro Anderson Faller. No Festival foi possível apreciar a cerveja em chope, ou seja, sem pasteurização. Bem equilibrada, traz notas frutadas e condimentadas intensas e saborosas, combinadas a um corpo leve e boa carbonatação, levemente adocidada. Uma cerveja refrescante e saborosa com ótimo drinkability. Para quem não pode conferir, as garrafas devem estar nos melhores pontos de venda das regiões Sul e Sudeste em breve.

Luís Celso Jr., jornalista e sommelier, é editor do site bardocelso.com