Os controversos rótulos da Cervejaria Urbana

Bem humorados, os nomes das cervejas geram polêmica e ficam cada vez mais conhecidos

André Cancegliero, um dos sócios da Urbana, acredita que a opção pelo humor é mais positiva do que negativa (Foto: Divulgação)

Sarah Buogo

Com quatro anos de existência, a cervejaria Urbana, do Jabaquara, zona sul de São Paulo (SP), tem ganhado destaque não só pelas receitas, mas também pelos rótulos. Com viés cômico, o conceito utilizado não tem agradado a todos os públicos. Inclusive, foram tachados de machistas com as marcas Gordelícia, Sporro e Refrescadô de Safadeza. Na defesa, um dos proprietários, André Leme Cancegliero, afirma que a proposta é totalmente voltada para o humor sem a intenção de desrespeitar a imagem feminina.

A Gordelícia foi um dos primeiros rótulos lançados pela cervejaria. Na garrafa, uma mulher fora dos padrões, com curvas arredondadas ilustra a bebida. A ideia surgiu por ser uma Belgian Strong Ale, uma “belga fortinha” como descreve André. “Ouvimos que nosso rótulo transforma a mulher em um objeto, mas não foi essa a intenção. Usávamos muito esse apelido na época da faculdade, sem cunho pejorativo, é uma brincadeira”, explica.

Gordelícia, uma das primeiras cervejarias lançadas pela Urbana (Foto: Divulgação)

A opção pelas brincadeiras tem excluído a cervejaria de eventos e dificultado a comercialização em algumas redes de bares e restaurantes. Isso, no entanto, não preocupa a cervejaria que tem uma produção de mensal de 15 mil litros e, além de São Paulo, comercializa seus rótulos em Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas Gerais e Goiás. Ainda mantém tratativas para levar a marca para outros estados.

“Foi uma opção que fizemos. O humor é uma característica nossa e quisemos colocar isso nas nossas cervejas. Nós respeitamos os estabelecimentos que se intitulam sérios e optam por não comercializá-la. Mesmo assim, acredito que foi uma boa escolha que nos dá um certo destaque”.

Sporro (Extra Special Bitter) e Refrescadô de Safadeza (Session IPA) também foram alvos de críticas, em virtude de um possível cunho sexual agressivo. No entanto, segundo o cervejeiro, a história por trás deles é bem diferente. No caso da Sporro, a relação foi a palavra original do dicionário (esporro) que quer dizer bronca. “O nome surgiu porque o Fernando (um dos sócios) demorou muito para entregar o rótulo dessa cerveja. Até o dia que, cansado de esperar, liguei e xinguei muito. Então ele diz que o rótulo foi inspirado no esporro que tomou de mim”.

Extra Special Bitter Sporro, outro rótulo controverso lançado pela cervejaria (Foto: Divulgação)

Além dos três rótulos polêmicos a cervejaria tem outros seis no mercado: a mais recente La Sorciere (Belgian IPA), Boo (American Wheat Beer), Passado negro (Stout), Trem Bão (Session IPA Saison colaborativa com a mineira Wals), Piscadinha (Black IPA), Nieuw West (Quadruppel Hop, colaborativa com uma cervejaria holandesa).

Duas novas cervejas devem ser lançadas ainda este ano, a Prima Pode (India Brown Ale), em outubro, e a Bolly Babe, uma Black IPA com curry, em dezembro. Para o início de 2015, está prevista a Teta, uma Milk Brown Ale que leva lactose na fórmula.

O limite do humor

Enquanto André Cancegliero desenvolve as receitas, o outro sócio, o publicitário Fernando Pieratti, cria o conceito dos rótulos que depois são enviados para uma agência de publicidade. O time de proprietários conta também com João Braga. A criatividade do trio rendeu um arquivo de 150 cervejas, com rótulos, mas que ainda não chegaram ao mercado.

No entanto, apesar do apelo bem-humorado André afirma que sempre busca equilíbrio nas brincadeiras e algumas ideias já foram vetadas por serem pesadas demais.

“Mesmo não concordando sempre, procuramos não brincar com opiniões fortes. Tentamos seguir uma linha mais humor inglês, estilo Monty Python, a brincadeira boba. Nessa nossa atual fase optamos por ter esse cuidado”.

Apesar disso, André critica a atual fase do politicamente correto que estaria exagerada, se aproximando de uma situação em que nada pode.

“Hoje tudo é visto com maus olhos. Os trapalhões, que foram sucesso entre as crianças, hoje seriam presos. Suas brincadeiras falavam de bebidas, mulheres e aprontavam com as pessoas. Hoje rola um saudosismo, mas muito do que era feito por eles antes, é criticado hoje”.

A influência norte-americana

Antes de tornar os rótulos comerciais, André conversou com cervejarias norte-americanas que também apostam no humor, algumas delas com um viés considerado bem mais pesado do que a aposta da Urbana. E delas ele tirou uma boa justificativa para não abrir mão do conceito, mesmo diante das críticas:

“Cerveja não é um produto que você vende para pessoas maiores de idade e que teoricamente já têm opinião formada? Além disso, pelas leis elas não têm acesso a tudo? Cabe a cada um saber o que concorda ou não. Assim como respeitamos o gosto individual também queremos respeito nas brincadeiras. Claro que não vamos discriminar ninguém, mas as pessoas tem que entender o que é uma brincadeira”.