Ciganos do lúpulo
/Como os "gypsy brewers" chegaram ao Brasil e disseminaram as cervejarias itinerantes
Por Raphael Rodrigues
Especial para a BeerArt
Alguns anos atrás o termo cervejeiro cigano (Gypsy Brewer) era desconhecido aqui no Brasil. O primeiro a romper essa barreira e explicar como tudo funcionava, pelo menos aqui no Brasil, foi Mikkel Borg, proprietário da cervejaria Mikkeller e organizador do Copenhagen Beer Celebration, evento considerado por muitos o melhor festival de cerveja do mundo. Em 2012, foi anunciada oficialmente a chegada da Mikkeller ao Brasil. Embora o termo hoje esteja desgastado, naquele contexto era algo novo.
Basicamente, o cervejeiro cigano é aquele que não tem um cervejaria própria. Prefere viajar o mundo produzindo suas receitas em diferentes cervejarias, assim também divulgando sua marca e fazendo parcerias. Um marketing pronto de boas cervejas, feitas em bons equipamentos e divulgação matadora, sem precisar no final do mês pensar em salários dos funcionários.
Veja de forma cronológica como tudo começou no Brasil:
Mikkeller (Dinamarca)
Chegou ao Brasil como convidado de um evento em Curitiba (PR), o Wikibier 2012, mas nada estava confirmado sobre a chegada das cervejas ao país. Nos bastidores, a importadora Tarantino já trabalhava com toda a documentação necessária para o lançamento, que por burocracias nacionais não ocorreu durante o festival, mas foi oficialmente anunciado em setembro do mesmo ano.
Mikkel teve de responder a diversas perguntas da imprensa local sobre o novo termo, "gypsy brewing", e como isso funcionava. Chegou a dizer que nunca teve planos de ter uma cervejaria própria para cuidar, afirmou que não conseguiria administrar tudo que envolve um negócio desses.
Além da Mikkeler e do festival Copenhagen Beer Celebration, Mikkel é dono dos bares da cervejaria, o mais recente inaugurado em Bangcoc no começo deste ano.
To Øl (Dinamarca)
Em marco de 2013 chega a segunda cervejaria cigana ao Brasil, também pela importadora Tarantino, que na verdade realizava uma extensão da importação da Mikkeller, já que Tore Gynther, proprietário da To Øl, é braço direito de Mikkel Borg. Porém, só vieram dois rótulos na ocasião e mais tarde, em dezembro de 2013, a cervejaria começou a ser importada pela Lorch, agora com vários rótulos.
Evil Twin (Dinamarca) Em abril de 2013 chegaram as primeiras garrafas por aqui, com importação da Beer Legends. Jeppe Jarnit-Bjergsø, irmão gêmeo de Mikkel Borg, também se tornou cervejeiro cigano. Jeppe, além da Evil Twin, tem um bar nos Estados Unidos.
Stillwater (Estados Unidos) Em julho de 2013 chega ao Brasil a Stillwater, também pela importadora Beer Legends. Brian Strumke, proprietário da cervejaria, era conhecido antes por ser DJ profissional de música eletrônica. Sua cervejaria cigana virou a prioridade, e a carreira musical ficou em segundo plano.
Omnipollo (Suécia) A mais recente cervejaria cigana no Brasil. O primeiro contêiner chegou em fevereiro de 2014 por aqui, também pela Beer Legends. Interessante lembrar que todos os citados acima já estiveram por aqui e inclusive alguns já fizeram suas cervejas em cervejarias brasileiras.
Brasil
No país, o fenômeno começa a crescer. Podemos citar dois ótimos exemplos, a 2Cabeças, do Rio de Janeiro (até ter parte de seu controle adquirida pela Invicta, de Ribeirão Preto-SP), e a Júpiter, de São Paulo.
A 2Cabeças, de Bernardo Couto, Salo Maldonado e Maíra Kimura, nasceu no primeiro semestre de 2012 com a Hi5 e logo depois lançaram a MaracujIPA e a Funk IPA, sem falar em colaborativas.
A Júpiter, que em sua fase caseira se chamava Tupã, lançou sua American Pale Ale, uma IPA veio logo depois e recentemente a Tânger.
Parece que o fenômeno dos cervejeiros caseiros deve continuar aumentando, principalmente por aqui. Vamos aguardar e contar novamente essa história daqui alguns anos.