A trajetória de um cervejeiro discreto e inovador
Marcel Longo, em 4 anos com a Dortmund, mostra faro para tendências
Altair Nobre
Refrescante, aromática e saborosa, a Witbier é um dos estilos de boas-vindas para novos apreciadores de cerveja artesanal no Brasil. Mas há quatro anos, em 2011, quando a Dortmund lançou a Schloss, pagou o preço do estranhamento. "Essa Weiss é muito esquisita, cítrica", ouvia Marcel Longo. Com a sensibilidade para antecipar tendências e a resistência para enfrentar as turbulências do negócio, o proprietário da cervejaria de Serra Negra (SP) celebra quatro anos de sua marca e planeja expandir a linha, como conta nesta entrevista à Beer Art.
"A gente sofreu muito preconceito no início", lembra. "Como eu era muito fã de Witbier, decidi fazer uma. A gente lançou, e todo mundo achou estranho. No começo foi bem complicado." Foi o segundo estilo produzido, um dia depois de uma Pilsen. Hoje, essa Witbier, com o nome de Schloss, é uma das mais vendidas da Dortmund, ao lado da Nostradamus, uma Stout. As duas acumulam medalhas: Ouro na South Beer Cup 2014, com a Schloss, Ouro no Mondial de La Bière Rio 2013, com a Nostradamus, e Bronze no Festival Brasileiro da Cerveja 2014, com ambas.
Entre os 8 rótulos de linha, chama a atenção também uma India Pale Ale (IPA) de trigo, The White IPA. Além do portfólio próprio, há as cervejas em parceria com as bandas Matanza e Ratos de Porão, com músico e apresentador João Gordo e com o chef Henrique Fogaça e a linha produzida para a webradio Rock na Teia. Até o fim do ano, a Dortmund deverá lançar uma American IPA e uma Bohemian Pilsener.
Essa história começou a nascer na virada do milênio, quando as atenções de Marcel estavam focadas no trabalho com hotelaria e loteamentos, em Serra Negra. Um amigo com trânsito facilitado entre o Brasil e os EUA (trabalhava na Delta Airlines) trouxe um pack com cerveja diferente das encontradas à época no Brasil − Samuel Adams. Impressionado, Marcel decidiu ir com o amigo para os EUA para uma temporada de pesquisa sobre microcervejarias.
"Eu me interessei", lembra. "Comprei livros, revistas, comecei a estudar." Ao retornar, visitou 19 fábricas no Brasil. Conversava com os proprietários, e ia abastecendo um banco de dados. Em 2007, veio a primeira frustração. Fez um curso de cerveja caseira, de um dia. Achou muito complicado e se desestimulou. Dois anos depois, deparou com a divulgação de um curso em Vassouras (RJ), com duração de 30 dias. Seu destino foi traçado pela resposta à pergunta que fez na ocasião: "Quem sabe com mais tempo eu consigo aprender melhor?"