Viveiro Ninkasi se torna o 1º certificador de mudas de lúpulo no Brasil

Credenciamento do viveiro como eleva o Brasil no cenário da agricultura cervejeira

Viveiro em Teresópolis/RJ foi o primeiro reconhecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para produção de mudas de lúpulo no Brasil (Foto: Divulgação)

ATUALIZADA, 3/6/2023 8:31

O Viveiro Ninkasi, em Teresópolis (RJ), se torna o primeiro certificador de mudas de lúpulo no Brasil. Após um trabalho de mais de um ano, o viveiro conseguiu obter no Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) o Certificado de Credenciamento no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) de "Certificador de Produção Própria". As mudas certificadas são aquelas que atendem aos padrões de qualidade estabelecidos pela legislação de sementes e mudas. Elas também podem ser produzidas sob o controle de uma entidade certificadora credenciada pelo MAPA.

A certificação de semente e mudas, de caráter voluntário, é o processo executado mediante controle de qualidade em todas as etapas do seu ciclo, incluindo o conhecimento da origem genética e o controle de gerações, que assegurem a rastreabilidade do lote e o certificador. O MAPA ou pessoa por este credenciada, é o responsável por verificar a aplicação das regras de certificação estabelecidas pela Legislação de Sementes e Mudas. As mudas certificadas podem e devem ser reconhecidas através do Certificado que acompanha a nota fiscal de venda.

O lúpulo

O lúpulo é uma planta trepadeira da espécie Humulus lupulus, da família Cannabaceae, usada na fabricação de cerveja para dar aroma, sabor e amargor à bebida, além de atuar como conservante natural. O lúpulo também tem propriedades terapêuticas, sendo usado no tratamento de problemas hepáticos e digestivos.

O cultivo de lúpulo no Brasil enfrentava muitos desafios, como a falta de adaptação da planta ao clima tropical, a dificuldade de importação de mudas estrangeiras e a ausência de regulamentação específica para a atividade. Por isso, o trabalho dos viveiros Ninkasi e Hops Brasil é tão relevante e inovador para o setor.

A serra fluminense emoldura a produção de lúpulo (Foto: Divulgação)

O Viveiro é fruto de um trabalho intenso da pesquisadora e técnica agrícola Teresa Yoshiko, que se apaixonou pelo lúpulo e resolveu testar seu cultivo em Teresópolis. Ela conseguiu resultados surpreendentes, provando que o lúpulo pode crescer no Brasil, mesmo em climas tropicais. Teresa Yoshiko realiza estudos sobre o cultivo de lúpulo em todo o país desde 2017; no início de 2023, o viveiro montou o primeiro manual de qualidade e enviou para o MAPA.

A montagem deste manual de qualidade exigiu muita pesquisa e dedicação. Além disso, realizamos frentes de pesquisas com várias instituições na área química desde 2021 para estudar os fins fitoterápicos, várias pesquisas com produtores de norte a sul do país e com entidades de pesquisa, como a Embrapa, Pesagro, Emater Rio e Universidades, onde acolhemos estagiários, tanto no Viveiro, como nos produtores de lúpulos onde prestamos consultorias. Com isso, estamos contribuindo para que a cultura do lúpulo no país cresça de forma idônea e ordenada.
— Teresa Yoshiko.

a pesquisadora e técnica agrícola Teresa Yoshiko se apaixonou pelo lúpulo e resolveu testar seu cultivo em Teresópolis (Foto: Divulgação)

Até 2022, o Viveiro Ninkasi tinha a capacidade de 120 mil mudas anuais; em 2023 passou para 1,2 milhão de mudas anuais, graças à montagem de um Laboratório In Vitro de onde as mudas poderão ser exportadas para vários países. As mudas feitas in vitro são isentas de pragas e doenças.

Hoje o Viveiro Ninkasi oferece 26 variedades de lúpulo para os produtores brasileiros, com mudas criadas com esta tecnologia in vitro para garantir a saúde e a qualidade das plantas.

"O produtor não deve aceitar menos. Ao comprar as mudas de lúpulo, é importante que ele faça isso de viveiros com mudas certificadas. Não vale correr o risco de ser enganado. As mudas de lúpulo são perenes e têm a durabilidade média de 15 anos. O produtor só vai descobrir que comprou gato por lebre quando estiver colhendo", ressalta Teresa Yoshiko.

No final de 2020, o viveiro da serra fluminense já havia obtido autorização para importação de mudas de lúpulo "in vitro" dos Estados Unidos da América (EUA) para comercialização com certificado de origem.

Muda de lúpulo (Foto: Divulgação)

Teresa Yoshiko explica:

"As mudas importadas in vitro, até então, independente do país de origem, só podiam ser destinadas para pesquisas. A não ser que fosse gerado um híbrido como resultado específico de uma pesquisa de melhoramento genético. Aí sim este podia ser comercializado. A partir de agora, quando o produtor plantar um lúpulo Cascade, por exemplo, ele terá certeza de que realmente é um Cascade e terá um documento comprovando isso para sua comercialização. Isso vai garantir segurança aos produtores de lúpulo do país e agregar ainda mais valor à cultura."

As primeiras mudas "in vitro" foram transformadas em matrizes.

"Para este plantio, foram feitas algumas adaptações no viveiro, tudo isso com acompanhamento técnico para que tenhamos um padrão e assim, garantir a qualidade e segurança das mudas. Estamos realmente muito felizes com mais esta conquista da importação “in vitro” e tenho certeza que será mais um grande salto de qualidade na produção do lúpulo nacional”, ressalta.

A liberação para importação de mudas "in vitro" para comercialização foi publicada pelo MAPA no dia 18 de junho de 2020. A Instrução Normativa SDA/MAPA nº 33 estabelece os requisitos fitossanitários para a importação de mudas in vitro (Categoria 4, Classe 1) de lúpulo (Humulus lupulus) produzidas nos EUA. Esta liberação foi muito bem recebida pelos produtores de lúpulo da região serrana do Rio de Janeiro, onde desde 2016 tem se verificado a produção, ainda em pequena escala, de diversas novas variedades de lúpulo. Os agricultores apostam na perspectiva do mercado diferenciado e promissor das cervejas artesanais, que hoje conta com diversas fábricas instaladas em Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo, Guapimirim e Cachoeiras de Macacu.

A região serrana do Rio de Janeiro vem se destacando na produção das cervejas artesanais no país e também de lúpulo, tendo a lei estadual 7.650/17 instituído Petrópolis como “Capital Estadual da Cerveja”; a lei estadual 7954/18, criado o “Polo Cervejeiro Artesanal de Nova Friburgo”; e o Projeto de Lei n. 610/2019 da Câmara Federal designado Teresópolis como a “Capital Nacional do Lúpulo”.