Südwerk: nascida na escola alemã e maturada na americana
Desde 2011, com os novos donos, a tendência é cervejas mais lupuladas e envelhecidas em barril
ROBERTO FONSECA
Caminho bem diferente foi o da Südwerk, instalada em Davis, na Califórnia. A cervejaria foi criada em 1989 com foco em Lagers da escola alemã e na Reinheitsgebot, a Lei de Pureza de 1516 – eram produzidas ali uma Pilsen, uma Märzen, uma Hefeweizen e uma cerveja classificada como “German Lager”. Por alguns anos, chegou a ser considerada o maior brewpub em atividade nos EUA. Em 2011, porém, foi colocada à venda quando os antigos proprietários já haviam se afastado das atividades. O neto de um deles, com um grupo de amigos, conseguiu financiamento e assumiu a Südwerk, que desde então também mudou seu foco para Lagers mais lupuladas e com envelhecimento em barril, seguindo tendências já adotadas pelos produtores de Ales e pelo mercado craft dos EUA.
“Nós tínhamos uma vantagem competitiva, porque o equipamento para produção de Lagers e a área de maturação a frio já estavam lá. Nosso principal gargalo de produção hoje é a falta de kegs”, conta Thomas Miller, um dos responsáveis por “refundar” a Südwerk – ele morou no Brasil durante a infância e boa parte da adolescência. “Quando a cervejaria foi fundada, no final dos anos 80, a cerveja artesanal estava começando a despontar nos EUA. O objetivo dos donos da Südwerk era dar uma ‘resposta’ local às cervejas importadas que chegavam ao país.”
A primeira mudança na nova fase da marca foi uma adaptação da German Lager, que se tornou uma California Dry Hopped Lager, com o processo de dry hopping, como sugere o nome. Hoje, ela é o rótulo mais vendido da Südwerk. “Alguns dos clientes mais antigos ficaram ofendidos por serem avessos a mudanças, mas a reação principal foi de animação com as novidades”, afirma Miller. A linha também passou a contar com uma India Pale Lager e uma Double India Pale Lager. “A principal razão (de ter uma IPL) foi a de poder ir para festivais de cerveja e ter uma receita para quem pede IPA. Mas também é um bom modo de mostrar às pessoas o que uma Lager pode ser e até onde ela pode chegar. Um dos nossos principais focos de trabalho na linha de produtos hoje é o dry hopping.”
A Hefeweizen “herdada” da fase anterior da cervejaria foi mantida em linha e se tornou uma das exceções à filosofia de Lagers. A Südwerk ainda mantém tanques abertos de fermentação em uma sala próxima à cervejaria, mas hoje o espaço fica trancado. Tudo porque, nos anos 90, um dos clientes mais “empolgados”, depois de algumas cervejas, resolveu nadar em um dos tanques. “A cerveja foi consumida e, quando o tanque esvaziou, acharam a carteira do sujeito no fundo. Na época, a cervejaria chegou a pensar em processá-lo.”
Ainda nessa linha “excepcional”, a Südwerk produz algumas Sour Beers. O mesmo ocorre com a Jack’s Abby, mas o cervejeiro Jack Hendler afirma que as receitas base usadas nas Sours da Jack’s Abby são Lagers. Mas e as Ales belgas e inglesas, por exemplo, não seriam um foco de “tentação” para os produtores de receitas de baixa fermentação?
“Sim, quando abrimos, ficamos bastante tentados a criar receitas inglesas e belgas, mas com o tempo nos tornamos bastante criativos com as leveduras Lager, que são bastante versáteis e nos permitem criar cervejas para os fãs de Ales”, afirma Hendler.
Lisa, da Heater Allen, diz que a cervejaria produziu uma receita belga para um festival em Portland. “Consideramos fazer algumas edições especiais, mas não vamos abrir mão do foco em Lagers.”
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Créditos: Fernanda Ueno (vista ampla da fábrica e brewpub) e Divulgação (keg e garrafas)
Influência
No Brasil, é possível encontrar duas Lagers americanas produzidas por cervejarias artesanais consideravelmente bastante conhecidas, a Samuel Adams Boston Lager, de Massachusetts, e a Brooklyn Lager, de Nova York. Ambas baseiam suas receitas no estilo Vienna Lager, com uma dose a mais de lúpulo. A Samuel Adams acabou sendo influência para uma das primeiras receitas nacionais a apostar em lúpulo, a Eisenbahn 5, também uma Amber Lager com amargor mais elevado. Mais recentemente, no Paraná, surgiram boas cervejas de baixa fermentação que seguem a linha lupulada, como a Jan Kubis, produzida pela DUM, e a Double Vienna, da Morada Cia. Etílica.