Tupiniquim: o segredo da ave
/Com alma brasileira e olhar cosmopolita, a Tupiniquim conquista medalhas e respeito
Por Altair Nobre (texto)
e Ricardo Jaeger (fotos)
Beer Art 7 - jun 2014
Porto Alegre (RS) - Ao desembarcar na South Beer Cup 2014, em Belo Horizonte (MG), Christian Bonotto estava confiante. Apesar de a Tupiniquim ser uma novata nessa competição considerada a "Libertadores da Cerveja", ele tinha segurança na qualidade do produto. Portava a certeza de que conquistaria uma medalha de bronze - ótimo desempenho para uma estreante com menos de um ano de existência. Errou. Voltou para Porto Alegre (RS) com dois ouros, duas pratas, um bronze e o título de Cervejaria do Ano.
Para contar a trajetória até essa façanha, ele recebeu a equipe da Beer Art na primeira quinta-feira de junho, ainda zonzo com a glória de 12 dias antes. Fruto de uma sociedade com mais dois amigos também vindos da informática, André Bettiol e Fernando Jaeger, e dois da área comercial, os irmãos Alex e Márcio Santos, a Tupininquim começou a nascer em 2006, a partir de uma inquietação de Christian. Um trisavô dele teve cervejaria em 1892 onde hoje fica o município de Faxinal do Soturno, no centro do Rio Grande do Sul.
"Se ele conseguia produzir cerveja naquela época, quando era muito mais complicado, a gente tem capacidade de fazer agora", raciocinou. "Fomos atrás." De início, a ideia era apenas adotar um hobby. Mas ficou sério: "A gente enxergou um mercado". Para entrar nele, o primeiro passo foi abrir uma importadora. Em sociedade com André, em 2007, surgiu a Beer Legends.
A empresa teria um papel estratégico para o nascimento da Tupiniquim seis anos depois. Com a importadora, vieram conexões com produtores internacionais, particularmente os "ciganos" em busca de boas cervejarias pelo mundo afora para fazer as suas cervejas, e também com o comércio local. De um lado a parceria com cervejeiros de excelência internacional e, na outra ponta, o acesso a pontos de venda, como os de rede de supermercados, por exemplo. Entre esses dois pontos, um caminho livre para ousar.
Ousar sem perder a identidade. Por isso foi escolhida a arara, uma ave bem brasileira, como símbolo da cervejaria, criada em 2013 com nome sugerido por André, a partir de brain storm. Brasilidade, mas sem bairrismo. A Tupiniquim é cosmopolita.
Além das opções de estilos mais tradicionais, desenvolveu uma linha mais arrojada, com a participação de cervejeiros ciganos.
Com o dinamarquês Jeppe Jarnit-Bjergsø, da Evil Twin, criou a Extra Fancy, uma India Pale Ale (IPA) medalha de ouro na South Beer Cup, e a Lost in Translation, uma IPA Brett premiada com a prata.
Com Henok Fentie, da sueca Omnipollo, surgiu a Polimango, Double IPA com polenta e lúpulos cítricos na receita, ouro na SBC.
Com Brian Strumke, da norte-americana Stillwater, produziu a Saison de Caju, bronze na SBC.
O que está no tanque
A aliança internacional produziu também outra modalidade de negócio. A Tupiniquim está produzindo uma cerveja da Evil Twin, uma Imperial Stout, prevista para estar pronta no meio de julho. A fábrica própria permite isso. Nos seis primeiros meses da Tupiniquim, era impossível, porque ela ainda não tinha estrutura própria e recorria à Saint Bier, de Forquilhinha (SC). No dia da visita da Beer Art, no tanque ao lado da Imperial Stout da Evil Twin, fermentava uma Imperial Porter, novidade da própria cervejaria da capital gaúcha.
E, afinal, qual é o segredo do voo da Tupiniquim?
Christian resume: "A gente estuda muito o que vai fazer. Aqui não se faz algo só porque está na moda. O desafio, para nós, é fazer um produto que agrade tanto ao leigo quanto ao especialista".