ONG cria projeto para ajudar mães da favela no pós-pandemia
Mãe e Muito Mais é uma ação da ONG Anjos da Tia Stellinha no Morro dos Macacos, na zona norte do Rio
Mulheres mais resilientes, equilibradas emocionalmente, com autoestima reconstruída e direitos sociais orientados para recomeçar são algumas das propostas do “Projeto Mãe e Muito Mais”. A ação foi elaborada pela ONG Anjos da Tia Stellinha, no Morro dos Macacos, na zona Norte do Rio de Janeiro, como uma forma de ajudar mulheres da periferia no contexto pós-pandemia.
Mas antes de essa iniciativa sair do papel, a fundadora do grupo, Stella Maris, passou por uma caminhada de aprendizado e troca no programa de voluntariado VOA, da Ambev. Por dois anos, ela participou de mentorias sobre gestão, desenvolvimento de pessoas e organização financeira e isso refletiu na elaboração do projeto Mãe e Muito Mais.
Segundo Stella, o VOA foi fundamental na sua formação como gestora:
“Antes de entrar no VOA, eu tinha muita dificuldade em delegar tarefas. Mas à medida que eles foram trabalhando a parte de governança, eu fui percebendo que eu precisava delegar as coisas e focar no tático e no estratégico. Tenho certeza que se eu não tivesse delegado as atividades, eu não teria tempo para sentar, desenhar uma pesquisa, estruturar um projeto e me dedicar a ele como eu fiz no Mãe e Muito Mais.”
Com esse novo perfil de gestora, Stella teve um olhar diferenciado quando a pandemia começou e as expressões da desigualdade social não só se agravaram, mas ganharam holofotes. “Inúmeros projetos de curto prazo foram apresentados no primeiro momento. Nesse contexto, percebi que as famílias que vinham semanalmente pedir ajuda estavam se repetindo. Essa situação me fez entender que precisávamos pensar também no pós-pandemia, pois sabíamos que essas mulheres não teriam resiliência econômica, social e emocional para recomeçar”, explica Stella Maris, fundadora do Grupo Anjos da Tia Stellinha.
A partir desse cenário, Stella elaborou uma pesquisa para entender quem eram essas mulheres e quais eram os serviços que elas não estavam conseguindo acessar. Cerca de 400 pessoas foram ouvidas e desses dados o projeto foi desenvolvido.
“Assim nasceu o ‘Mãe e Muito Mais’ e expandimos o nosso trabalho de emancipação feminina para 400 mulheres. Por três meses, essas mães participaram de aulas sobre os quatro eixos da nossa metodologia Quadrilátero de Apoio (Terapia, Assistência Social, Educação e Integração Social). Enquanto isso, ajudamos as mães com os fluxos necessários para que elas acessassem seus direitos e, com apoio de parceiros, conseguimos com um cartão-alimentação”, relata Stella.
Depois desse grupo piloto, a ONG abriu mais 3 turmas com 150 mulheres, fechou parcerias e outras 7 ONGs do Rio de Janeiro já utilizam a metodologia. Para o próximo ano, a previsão é que 20 instituições no país comecem a trabalhar com essa metodologia, sendo um total de 6000 mulheres atendidas.
Stella sublinha que ela se vê nessas mulheres.
“Sou mulher, preta, mãe de 5 filhos. Eu sei o quanto é difícil não ter portas abertas. A gente sempre precisa arrombar portas. Uma das coisas que nós perguntamos na nossa pesquisa para as mulheres é: ser mãe para você dificulta o seu acesso ao mercado de trabalho? A maioria respondeu que sim. Morar na favela dificulta? A resposta também foi sim. Ser preta dificulta? Sim. Lidamos com muitas barreiras. A barreira de ser mulher, ser negra e ser mãe. A gente sempre precisa ficar quebrando barreiras. Por isso, eu fico feliz de poder facilitar um pouco. Eu sei que elas vão continuar quebrando barreiras, mas aqui elas vão descobrir caminhos para não se machucar tanto, se ferir tanto”, disse.
ONG Anjos da Tia Stellinha
Com um time majoritariamente feminino, a ONG Anjos da Tia Stellinha atende famílias chefiadas por mulheres em situação de pobreza e extrema pobreza no Rio de Janeiro. O grupo trabalha com uma metodologia própria e única, a Quadrilátero de Apoio, na qual ferramentas para alcançar a emancipação financeira, emocional e social, por meio de atendimentos e atividades, são ofertadas à comunidade. As ações são orientadas por quatro eixos: Assistência social, Terapia, Integração Social e Educação.
Para a fundadora, a proposta é integrar essas mulheres para que elas consigam circular em outros meios sem ser a favela, sempre respeitando a história e a cultura que ele traz. Ao todo, cerca de 4 mil atendimentos são realizados por mês na ONG, sendo eles atendimentos às mães e seus filhos.
O programa VOA
Desde 2018, o VOA atua junto a ONGs para melhorar questões relacionadas à gestão, desenvolvimento de pessoas e organização financeira. Essa proposta foi desenvolvida em sintonia com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1, 4, 8 e 17 da ONU, que busca tornar o mundo mais inclusivo e sustentável. Os colaboradores da Ambev doam tempo e conhecimento para alavancar o impacto social de organizações que atuam em todas as áreas, especialmente no desenvolvimento, educação e geração de oportunidades para crianças e jovens. As ferramentas disponibilizadas no programa ajudam as ONGs a ampliar o alcance de seu impacto positivo na sociedade. Além disso, os funcionários voluntários ajudam essas organizações, por meio da mentoria, a implementar esses conteúdos na sua gestão e processos do cotidiano.