“Informação é a chave para o aumento no número de consumidores de cervejas artesanais”
Rodrigo Sawamura, sommelier campeão brasileiro, fala sobre os desafios do mercado
Vencedor do Campeonato Brasileiro de Sommelier de Cervejas em 2016, Rodrigo Sawamura acaba de publicar, em parceria com a My Growler, um e-book gratuito sobre os estilos de artesanais preferidos dos brasileiros. Para compartilhar mais conhecimento com os leitores da Beer Art, ele concedeu uma entrevista, conduzida por Bianca Persici Toniolo, da My Growler, que você pode conferir a seguir. Nela, o especialista fala sobre os desafios para quem, como ele, empreende no mercado de cerveja artesanal.
Pergunta - Como você vê o perfil do brasileiro consumidor de cervejas artesanais?
Rodrigo Sawamura - O perfil do consumidor vem evoluindo. Essa percepção da evolução se dá tanto no que diz respeito à abertura para experimentação de novos estilos, quanto na questão da qualidade.
Pergunta - Que tipo de experiências esse consumidor costuma procurar? RS - Sem dúvida nenhuma, a “novidade” é um dos principais fatores de decisão na hora da compra. Essa novidade pode ser a descoberta de novos estilos, sabores, cervejarias, rótulos e também de novas possibilidades de combinação entre gastronomia e cervejas. Pergunta - Na sua opinião, o que levou o brasileiro a sair da zona de conforto das cervejas populares e migrar para as artesanais?
RS - Acho que o resultado vem de um conjunto de fatores, começando pela maior disponibilidade de cervejas artesanais no mercado, passando pelo crescimento do número de cervejarias, melhor posicionamento de preço e facilidade de acesso à informação sobre o universo das cervejas artesanais. Tudo isso tem atraído novos consumidores para as artesanais.
Pergunta - E o que é necessário para que a cerveja artesanal seja cada vez mais popular no Brasil?
RS - Para que o número de consumidores de cervejas artesanais continue crescendo, destaco entre as principais necessidades: precificação, qualidade e educação. Com relação à precificação, não podemos deixar de lado as cervejas com valores mais acessíveis, que têm um papel muito importante nessa apresentação dos novos sabores quando falamos das cervejas artesanais. Outro ponto importante diz respeito à qualidade da cerveja artesanal. Ainda sofremos um pouco com oscilações de qualidade da cerveja e interpretações equivocadas de alguns estilos de cerveja. Um maior investimento nos laboratórios e na gestão sensorial em nossas microcervejarias ajudará nesse processo de crescimento e consolidação do mercado. Por fim, o acesso à informação é fundamental para a educação cervejeira, seja na questão do beber com responsabilidade, seja para compreender a qualidade do produto.
Pergunta - Conhecimento é, então, uma das palavras-chave para o mercado das cervejas artesanais. Qual é a importância de conhecer a cerveja que se está bebendo?
RS - Conhecer as características sensoriais dos estilos de cerveja ajuda o consumidor a ser mais assertivo na sua decisão de compra e estimula a busca por novas experiências sensoriais. Publicações como o recém lançado e-book que escrevi em parceria com a My Growler são iniciativas que que ajudam na formação de consumidores. O material tem linguagem simples, ideal para quem está começando a se aventurar no universo das cervejas artesanais. Apresenta os estilos mais consumidos no Brasil, suas características e origens, dá dicas de harmonização e ainda indica os tipos de copos mais para cada um deles. Sem falar que é gratuito.
Pergunta - O que você procurou sintetizar no e-book recém lançado?
RS - A premissa para a escolha dos estilos foi pensar justamente naquele consumidor que está iniciando sua jornada de apreciação das cervejas artesanais. Pensei principalmente na facilidade de entendimento dos estilos apresentados, além da disponibilidade desses estilos em nosso mercado.
Pergunta - Além do consumo de informação disponível na internet, como e-books, sites e blogs especializados, quais são os caminhos mais indicados para conhecer o universo das cervejas artesanais?
RS - São várias as possibilidades. Hoje em dia temos acesso aos mais diversos clubes de assinatura, bares, lojas especializadas e escolas profissionalizantes que oferecem uma variedade de experiências para quem quer aprender mais sobre cervejas artesanais.
Pergunta - Voltando a falar em sua parceria com a My Growler, empresa que está promovendo a cultura do growler no Brasil, como você vê a função do growler na busca do consumidor pela cultura cervejeira?
RS - O growler tem papel importante na cultura cervejeira pois traz justamente os benefícios da precificação e da qualidade da cerveja. Por se tratar de uma embalagem reutilizável, reduz custos para o consumidor final, que paga apenas pelo líquido. Além disso, como foi feito para chope (cerveja não pasteurizada), alguns riscos relacionados à qualidade do produto são menores. Em resumo, o growler permite o acesso a um produto com custo relativo menor e qualidade relativa maior quando comparamos às cervejas em latas e garrafas.
Pergunta - Que futuro você vê para as cervejas artesanais brasileiras?
RS - O futuro da cerveja artesanal é bastante promissor. Temos muito ainda para evoluir, mas estamos num caminho sem volta. Acho que nos próximos anos teremos aumento considerável no número de brewpubs no Brasil e o fortalecimento do mercado nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Pergunta - Para finalizar, uma dica especial para não errar na hora de harmonizar cerveja e gastronomia.
RS - Em uma harmonização a palavra-chave é o equilíbrio. Desta forma, os atributos sensoriais da cerveja e do prato deve estar em um mesmo nível de força. Assim, cervejas mais leves combinam mais com pratos mais leves e as cervejas mais intensas com pratos mais untuosos e pesados.