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Mestres-cervejeiras conquistam espaço

No dia em que a profissão é celebrada, especialistas se contrapõem a um mercado tido como masculino

Maria Eduarda Victorino (formada em Tecnologia Cervejeira) e as mestre-cervejeiras Débora Lehnen (sócia-proprietária da Proa) e Laura Aguiar e Rozilene de Sá (Ambev)

Em 19 de junho, comemora-se o Dia do (a) Mestre-Cervejeiro (a), profissional responsável pela seleção de ingredientes e criação da receita até o controle de qualidade da bebida, e a data - assim como o Dia Internacional da Mulher, reacende uma discussão importante em relação à presença das mulheres nas cervejarias pelo Brasil.

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Ainda hoje é comum a associação da bebida ao universo masculino, embora historicamente essa conexão não faça sentido. Registros indicam que a invenção da cerveja é obra de uma mulher e a inserção do lúpulo nas receitas, um marco importante para o aperfeiçoamento da bebida, também. Para Laura Aguiar, mestre-cervejeira da Ambev há 10 anos, a quebra de estereótipos e a entrada das mulheres no mercado cervejeiro está caminhando.

“Estamos transformando esse mercado e cada mulher, seja a que produz profissionalmente ou por hobby, em um agente fundamental de mudança no caminho que temos pela frente,” conta Laura.

A especialista lembra ainda que “o universo cervejeiro é, de forma geral, machista, por isso as cervejarias devem olhar o tema com atenção e investir em frentes de apoio à pluralidade de vozes, além de incentivar movimentos inclusivos, já que a mudança vem de dentro”. Da totalidade de mestres-cervejeiros (as) da Ambev, cerca de 50% são mulheres, um número representativo e que vem sendo ampliado ao longo dos 20 anos da companhia.

Rozilene de Sá faz parte dessa porcentagem. Bacharel em Química, ela ressalta que assistiu a um salto no número de mulheres cervejeiras nos últimos anos, não só na Ambev, onde atua desde 2001. A profissional é ainda parte de uma confraria idealizada por um grupo de mulheres para falar sobre empoderamento feminino e, claro, criar cervejas.

“É inegável o crescimento do interesse de mulheres em se especializarem na área e isso é reflexo da representatividade de profissionais que cada vez mais quebram estereótipos de que mulher não faz nem toma cerveja. Inclusive, olhando para as consumidoras, precisamos parar de associar certos estilos de cerveja a mulheres, como se só gostássemos de degustar cervejas leves e suaves. A diversidade de estilos e sabores dessa bebida milenar existe para todos gostos e momentos, independentemente do gênero”, afirma.

A realidade, que vem alterando um cenário por anos solidificado, reflete também em mulheres que estão à frente de cervejarias de pequeno porte. É o caso da Proa, que tem seu quadro de 8 funcionários preenchido por 50% de mulheres, um número bastante expressivo, segundo a sócia-proprietária Débora Lehnen, que é Mestre e Bacharel em Química e Mestre-Cervejeira.

“Apesar de ser um quadro congênere, para um mercado em que as mulheres são minoria, isso é bastante representativo”, conta.

De acordo com a mestre-cervejeira, houve um grande avanço na representatividade feminina na área, embora ainda seja comum ter de provar duas vezes a sua competência e conviver com frases como 'chame o cervejeiro para me explicar sobre essa cerveja'.

Além do machismo observado nesse mercado, mulheres negras ainda enfrentam o preconceito racial.

“Estou inserida em um meio dominado por homens brancos e, infelizmente, é claro que episódios envolvendo discriminação já aconteceram. Vez ou outra temos nossa capacidade questionada ou ouvimos comentários de conteúdo machista”, revela Maria Eduarda Victorino, farmacêutica formada em Tecnologia Cervejeira e pesquisadora de processos fermentativos do Laboratório de Biotecnologia Microbiana (LABIM-UFRJ).

Ela ressalta a importância de reiterar que, historicamente, a produção de cerveja é uma atividade de mulher.

“Fico empolgada em observar esse resgate, vendo cada vez mais mulheres em eventos voltados para a cerveja. Como faço parte de um coletivo formado por mulheres, o @pretascervejeiras, tenho a oportunidade de estar sempre trocando conhecimento com aquelas que querem aprender mais sobre a bebida para que possam produzir para consumo próprio ou, até mesmo, para ingressar nesse mercado de trabalho.”

Apesar de observar avanços conquistados em relação à equidade de gênero, Maria Eduarda afirma que o debate não deve ser encerrado por aí.

“Questões relacionadas à raça e classe social também precisam ser consideradas. As cervejarias, assim como todas as empresas, precisam atuar para garantir as mesmas oportunidades a todos. A adoção de um ambiente mais plural, formado por pessoas de diferentes backgrounds é favorável tanto para a empresa, quanto para a sociedade como um todo”, reflete a profissional.