Entre o fim do século XIX e início do XX, marca fundou diversos estabelecimentos urbanos pela cidade

Quem diria que uma simples marca de cerveja seria uma das responsáveis por contribuir com a histórica urbanização de São Paulo, e ainda fomentar ainda mais o turismo e o entretenimento na cidade? Esse é o caso da Companhia Antarctica Paulista que, entre o fim do século XIX e início do século XX, fundou diversos estabelecimentos urbanos pela cidade e influenciou em seu crescimento.

Com isso, a empresa até foi tema de mestrado do historiador formado pela Universidade Federal de São Paulo Diógenes Sousa, que defendeu sua tese na PUC de Campinas e agora está se aprofundando no urbanismo em seu doutorado na PUC de São Paulo. “Meu desafio foi entender a participação da companhia no processo de urbanização de São Paulo”, explica o historiador de 35 anos.

A Companhia Antarctica Paulista foi criada em 1885, inicialmente, como um abatedouro e fábrica de gelo no Bairro da Água Branca. Três anos depois, em 1888, Louis Bucher, filho de cervejeiros alemães, entrou em sociedade com a empresa e passou a fabricar cerveja industrial. Foi só em 1891 que a Companhia Antarctica Paulista foi fundada formalmente.

Ainda, de acordo com Diógenes, a Antártica, para atender seus funcionários bem como a comunidade do entorno - que era formada por familiares e imigrantes -, criou vários pontos urbanos por São Paulo, desde parques e espaços culturais que levam o seu nome até estabelecimentos voltados para a saúde e educação. Focando nos locais voltados para o entretenimento, confira os que foram inaugurados pela cervejaria:

1 - Bijou Theatre

A primeira sala de cinema foi fundada em 1907 em um suntuoso prédio localizado na avenida São João, que naquela época era batizada como rua. Apesar de ser um empreendimento dos exibidores Francisco Serrador e Antonio Gadotti, o cinema estava instalado em um estabelecimento construído em um terreno de propriedade da Antarctica, que foi arrendado para este fim.

O local não foi o primeiro a exibir filmes em público, antes de sua fundação, os filmes eram passados em locais improvisados e itinerantes, o pioneirismo do Bijou Theatre está no fato de ele ser um cinema fixo e aberto como um negócio na cidade. Suas sessões eram formadas, cada uma, por cinco filmes curtos com dez minutos de duração, e aconteciam sempre às 18h30 nos dias de semana e das 13h30 às 19h30 aos domingos. Muitos clássicos, como A Dama das Camélias e Macbeth, foram estreados lá.

2 - Cassino Antarctica

Em uma época em que as apostas eram permitidas para além do cassino online brasileiro, a companhia fundou o Cassino Antarctica. Funcionando simultaneamente como um teatro, o local frequentado por homens importantes da alta sociedade foi fundado em 1914 na rua do Anhangabaú e contava com shows de artistas famosos, festas, jogatinas e até prostituição de mulheres vindas de Paris.

3 - Parque Antarctica

Este, certamente, foi o empreendimento que mais alavancou o desenvolvimento urbano de São Paulo, pois foi um imenso parque voltado para o lazer construído na zona oeste da cidade. Com 300 mil metros quadrados, o parque era um espaço de entretenimento aberto ao público.

“Grande programa, o maior, o melhor de todos para mim - a ida ao Parque Antarctica, na Água Branca. Ai, que frio no estômago ao subir na roda gigante! E o carrossel? Era por acaso pouco emocionante galar nos coloridos cavalos de pau? Chegava a sentir vertigem daquele sobe-e-desce dos cavalinho rodando, rodando... Havia um hábito intolerável dos adultos: plantavam-se de pé, cada qual ao lado de uma criança. Eu detestava esta proteção, preferia andar solta, galopar em liberdade", citou Zélia Gattai (1916-2008) ao memorar seus passeios pelo parque com a família durante a infância em seu livro Anarquistas, Graças a Deus.

Assim como todo grande parque, este vendia pirulitos, algodão-doce, gasosas, que motivou a Antarctica produzir e vender refrigerantes, e, claro, cerveja da marca para os adultos. Hoje, o local que sediava o parque agora sedia o Arena Palestra Itália.