Laboratório usa equipamentos cervejeiros para produzir microalgas
Pesquisa é conduzida pelo Bev Hack Lab, integrante do Centro de Inovações Tecnológicas da Ambev
O Bev Hack Lab - laboratório integrante do Centro de Inovações Tecnológicas da Ambev, tem dedicado atenção à produção de microalgas em tanques cervejeiros. Os equipamentos foram transformados em biorreatores com sistema de automação e controle de temperatura, que podem ser manejados de qualquer lugar do mundo via aplicativo de celular.
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Além dos tanques e o sistema de automação, o BHL usa outros equipamentos cervejeiros, como a centrífuga, para a produção de biomassa. A iniciativa faz parte das "experiências de garagem" promovidas pelo laboratório, baseadas na cultura hacker de inovação.
A proposta do projeto é explorar o potencial do desenvolvimento sustentável de microalgas, que servem à indústria como fonte energética e "superalimento" - graças à abundância de proteínas, antioxidantes, ômega-3, sais minerais e vitaminas do complexo
Um dos microrganismos mais antigos do planeta - que surgiram há milhões de anos nos oceanos - são considerados, atualmente, como uma grande promessa de inovação em sustentabilidade, alimentação, geração de energia e outras áreas. As microalgas têm de 80 a 100 mil espécies espalhadas nos mais diferentes ambientes aquáticos do mundo e, no Brasil, pesquisas avançam em produção e aplicabilidade destes organismos unicelulares.
Estes seres microscópicos têm utilizações em diferentes setores, incluindo:
Alimentação - Algumas espécies de microalgas são ricas em nutrientes, como proteínas, vitaminas e minerais, podendo ser utilizadas como suplemento alimentar para humanos e animais.
Produção de biocombustíveis- Muitas possuem alta capacidade de produção de lipídios, que podem ser transformados em biocombustíveis, como biodiesel, bioetanol e bioquerosene.
Tratamento de águas residuais - As microalgas podem ser utilizadas também para remover poluentes de águas residuais de indústrias, ajudando na sua purificação.
Cosméticos - Estes microrganismos são ricos em compostos bioativos benéficos para a pele e cabelos, sendo utilizados na produção de cosméticos.
Essas são apenas algumas das principais utilizações das microalgas, mas existem muitas outras possibilidades de aplicação.
Em 2017, por exemplo, a Embrapa Agroenergia (DF) identificou espécies de microalgas que podem ser cultivadas em resíduos líquidos oriundos de processos de agroindústrias. Esse cultivo gerou matéria-prima renovável para biocombustíveis, rações, cosméticos e vários outros produtos. A pesquisa, que levou três anos para ser concluída, também revelou espécies na biodiversidade brasileira até então desconhecidas.
Os efluentes utilizados nos estudos da Embrapa foram a vinhaça, formada na produção de açúcar e etanol de cana, e o Pome, óleo gerado no processamento do dendê. Eles foram aproveitados na produção de microalgas para geração de biomassa, bioenergia e bioprodutos, agregando valor às cadeias produtivas da cana e do dendê.
De acordo com o professor Graco Aurélio Viana, diretor do Centro de Biociências da UFRN e coordenador de um projeto vencedor do Prêmio ANP de Inovação Tecnológica 2018, as microalgas têm produtividade cinquenta vezes maior do que a soja. Ou seja, enquanto a soja demora até 120 dias para ser colhida, foi possível tirar 50kg de biomassa de um tanque de 20 metros cúbicos, em até 20 dias. A área utilizada no cultivo das microalgas corresponde a um cento da maioria das culturas de soja. A pesquisa foi focada na produção de biodiesel.
Segundo levantamento feito pela bióloga e pesquisadora Ana Beatriz Lobo Moreira, em 2021, o Brasil chegou a contribuir com outros 35 países em estudos sobre microalgas, o que aponta que as pesquisas brasileiras estão alinhadas com as tendências acadêmicas globais.