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Amanda Henriques

A revolução carioca

Em diferentes formas, a cerveja artesanal avança no Rio − como mostra Amanda Henriques, a criadora e editora do blog Maria Cevada

Amanda com os "3cariocas", que triunfaram no mais recente Mondial de la Bière (Foto: Maria Cevada)

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Beer Art 17 - abr/15

O Brasil vem acompanhando o desempenho notório dos rótulos cariocas nos principais concursos cervejeiros do país. No Mondial de la Bière do ano passado, a Session IPAnema foi consagrada como melhor cerveja do evento e sua cervejaria não poderia representar melhor a cidade. A 3cariocas estreou sendo eleita a campeã pelos jurados acompanhada da vencedora segundo a escolha do público – a Jeffrey. Cria do Leblon, “a cerveja do patinho”, ajudou a chamar a atenção para o que pode ser considerado um dos melhores momentos da cerveja artesanal no Rio de Janeiro.

Além da visibilidade dos rótulos novos, cervejas já conhecidas e consagradas estão buscando novas formas de expansão. Novas cervejas e cervejarias surgem a todo momento, mas as novidades não estão apenas nas torneiras. Nos últimos anos, a cidade passou a atrair novos modelos de negócio, estabelecimentos e chama a atenção do mercado em setores que vão do turismo à educação.

A onda do patinho

No primeiro Mondial de la Bière, quando a Jeffrey dava seus primeiros passos, entrevistamos o Gilson Val, um dos sócios responsáveis pelo projeto:

"Não é só beber cerveja, estamos buscando valorizar a experiência de tomar uma boa cerveja. Somos os primeiros a ter essa preocupação".

Com essa proposta anunciada, atualmente a Jeffrey é uma das cervejas artesanais mais queridas pelos cariocas.

a Jeffrey tem loja conceito no leblon (Foto: Maria Cevada)

A Jeffrey Niña, uma witbier feita com raspas de limão-siciliano, é uma cerveja leve e refrescante com 5,3% de álcool. A cerveja é produzida na Allegra, mas seu QG fica no Leblon, na loja conceito Jeffrey Store. O espaço mistura cervejaria, loja e galeria de arte − a aproximação de cerveja e arte é um posicionamento da marca desde o seu surgimento − e periodicamente realiza lançamentos de exposições e eventos com chefs cariocas consagrados.

O rótulo da Jeffrey traz um patinho elegante que virou marca registrada. Em breve "a cerveja do patinho" vai migrar para Petrópolis e passa a produzir em espaço próprio − a cervejaria Los Patos.

Estreia premiada

Campeã do Mondial de la Bière, a estreia da 3cariocas não poderia ser melhor. A Session IPAnema (uma session IPA como o nome já diz) venceu um dos principais concursos cervejeiros do país e desde então é figurinha carimbada nas torneiras cariocas. Os três cariocas João Gabriel Reis, Eduardo Diehl e João Filipe Rocha comandam o sucesso dessa cerveja pouco alcoólica, mas com o amargor intenso − 4,8% de álcool e 42 IBU.

"Olha o Malte!"

O mate é uma tradição das praias cariocas, mas os gritos dos vendedores mudaram um pouco na orla do Leblon. Os vendedores da cerveja Irada! percorrem a areia com mochilas-keg e gritos de "Olha o Malte!". Cada copo de 400ml da American Lager de 4,5% de álcool é vendido por 8 reais.

A Irada! é a pioneira nessa forma de comercialização. Os sócios Flávio e Pedro Largacha, Annelize Hochmann, Felipe Nogueira e Malvino Salvador (sim, o ator) são os responsáveis pelo projeto, que pretende expandir sua área de atuação pelas praias de Ipanema e Copacabana em breve.

"Lançamos recentemente a versão em garrafa de 600ml que, no momento, podem ser encontradas no Bar do Lado e no Marina do Leblon", conta Annelize.

Cerveja no Palito

Criadores do Craft Beer Ice Cream acreditam que seja o primeiro picolé de cerveja no mundo (Foto: Maria Cevada)

Os cervejeiros cariocas estão muito bem servidos de opções para refrescar o verão. A Craft Beer Ice Cream lançou 5 sabores de picolés com cerveja que já estão disponíveis em alguns pontos de venda no Rio de Janeiro como o Delirium Café, em Ipanema. Os sabores são laranja com Weissbier, damasco com Pilsen, gianduia com Bock, doce de leite com IPA e chocolate belga com Dunkel.

"Tivemos muito trabalho para pesquisar, mas esse é o primeiro picolé com cerveja do Brasil e possivelmente do mundo", explica Túlio Rodrigues, que comanda os projetos da Craft Beer Ice Cream, já presente em 35 pontos de venda em São Paulo, mas em potinho. "O picolé é uma exclusividade do Rio de Janeiro", completa.

A magia da Hocus Pocus

No mês passado a Hocus Pocus lançou a APA Cadabra (uma American Pale Ale), dando continuidade ao trabalho que começou com a Magic Trap − uma Belgian Golden Strong Ale. No comando da cervejaria, Pedro Butelli e Vinicius Kfuri já se preparam para as novas invenções.

"Já temos algumas coisas preparadas para lançar ainda este ano. Queremos fazer a Imperial Stout que venceu o concurso nacional das Acervas, mas ainda não temos uma data programada de lançamento, já que ela precisa de bastante tempo de maturação", adianta Pedro Butelli. "Além disso, estamos trabalhando para oferecer a Magic Trap em garrafas, e já fechamos o estilo da nossa 3ª cerveja, só falta fazer alguns experimentos para acertar os últimos ajustes na receita. O que eu posso adiantar é que nossa primeira cerveja, a Magic Trap, foi focada nos aromas gerados pelo fermento; a 2ª, a APA Cadabra, tem o lúpulo como personagem principal; e a 3ª será focada no outro ingrediente que faltou, o malte."

Hoje a Hocus Pocus produz 3000 litros por mês nas fábricas da Allegra e Antuérpia. Para aqueles que tiverem curiosidade de provar, a única opção é vir ao Rio de Janeiro, pois a APA Cadabra não vai sair da sua cidade natal. "Ela precisa ser degustada muito fresca!", explica Butelli,

Three Monkeys

Quando os amigos Leonardo Gil, Bernardo Costa e Filipe Oliveira decidiram fazer o curso de cerveja artesanal do Mestre-cervejeiro Leonardo Botto, o destino resolveu dar uma ajudinha e batizar a cervejaria. Eles desistiram imediatamente do nome "Three Monks" (Três Monges) quando macaquinhos apareceram durante a fabricação da cerveja do curso. Ficou decidido que 'Three Monkeys' seria mais adequado. Hoje os três também contam com o reforço do amigo Antonio Pedroso.

A cerveja é uma alternativa aos sabores cariocas lupulados. A Three Monkeys é dourada e apresenta aromas que remetem a frutas amarelas. Tem um toque de aveia que favorece o corpo. É uma cerveja de alta fermentação com 7,5% de álcool, e seu sabor maltado é complementado por um amargor leve presente no retrogosto. É uma Golden Ale bem equilibrada que consegue ser refrescante.

“A gente queria um estilo que fosse mais equilibrado. Nada muito de nicho para um primeiro rótulo. Precisávamos de algo que agradasse a maioria dos paladares”, explica Antônio Pedroso. “Hoje a nossa produção fica em torno de 2500 litros/mês e acontecem a cada 2 meses para os chopes e 3 meses para garrafas.”

Além da Golden Ale, Antônio revela duas novidades: “Estamos trabalhando o lançamento de dois rótulos para neste ano – uma Wit IPA e uma Brown Ale colaborativa”.

A expansão das consagradas

Criada em 2012 por Bernardo Couto e Salo Maldonado, hoje a 2cabeças continua seus passos sob o comando de Bernardo e Maíra Kimura. Eles já possuem uma gama de cervejas conhecidas pelos cariocas: Hi5 (Black IPA), Maracujipa (IPA com adição de maracujá), Funk IPA (Session IPA), além das colaborativas Saison à Trois (Saison em parceria com a Invicta), Caramba! (Saison em parceria com a Stillwater) e Hello My Name is Zé (Double IPA com maracujá em parceria com a Brewdog). No ano passado, a cervejaria reformulou sua identidade visual e se prepara para uma nova fase em 2015. Eles anunciaram uma parceria definitiva com a Invicta (Ribeirão Preto/SP) e deixam de ser uma cervejaria cigana.

"Acreditamos na competência da Invicta e desde o início eles foram muito parceiros. Eles já têm o know-how para produzir as nossas cervejas e estamos muito felizes com esse novo momento", conta Maíra Kimura.

A parceria vai favorecer a regularidade de produção e distribuição das cervejas e ainda traz uma novidade para o consumidor final: em breve os rótulos tradicionais da 2cabeças estarão disponíveis em garrafas de 500ml.

Formando profissionais cervejeiros cariocas

O Instituto da Cerveja acaba de formar os primeiros 60 alunos do curso de sommelier de cervejas do Rio de Janeiro e promoveu recentemente o 2º Campeonato Brasileiro de Sommeliers. O carioca Gil Lebre foi o vencedor e vai representar o Brasil no mundial ao lado dos 24 melhores colocados do campeonato.

O Rio de Janeiro também já é uma das cinco capitais contempladas pelos cursos de formação de sommeliers do Science of Beer. Além desses, curso de Técnicas de Sommelier de Cerveja do Senac/RJ é o pioneiro da cidade e oferece certificação da Doemens − escola alemã especializada em cultura cervejeira. Desde o surgimento há uma grande procura pelos cursos da Unidade de Copacabana. No ano passado, a unidade Barra da Tijuca também passou a oferecer o curso.

Para quem pretende produzir cerveja, o Rio de Janeiro tem algumas opções. Em geral, os cursos têm duração de um dia, e o aluno sai com embasamento prático e teórico para começar a produzir cerveja em casa.

A Confraria do Marquês já formou mais de 40 turmas de cervejeiros caseiros, e a próxima turma está prevista para abril. Outro curso muito procurado é ministrado pelo cervejeiro Leonardo Botto, no qual o cervejeiro conduz uma brassagem didática. Depois de pronta, a bebida tem lugar garantido na torneira do Botto Bar, com dia marcado para chamar os amigos pra provar sua produção. O cervejeiro Bernardo Couto também oferece cursos de produção que acontecem em sua própria cozinha com direito a material didático e consultoria na produção dos futuros rótulos dos alunos.

Saiba mais no blog Maria Cevada, ao clicar neste link.

Boom dos bares cariocas

Com mais cervejeiros profissionais no mercado, o cenário da cerveja artesanal do Rio de Janeiro mostra que o mercado só tem a crescer. Se você quiser conferir de perto esse grande momento do Rio, separamos uma lista de bares para que, na sua próxima visita, você se sinta parte da revolução carioca (a Beer Art reuniu os bares em um mapa, que você acessa ao clicar aqui):

Antiga Mercearia e Bar - Como o nome já diz, o bar se mistura a uma mercearia e tem uma das melhores seleções em garrafa. Se a sua praia é chope, a Antiga tem três opções que incluem até rótulos próprios. O clima é bem informal com direito à mesa coletiva e banquinho de praça. Fica na Cobal do Humaitá em Botafogo. Rua Voluntários da Pátria, 446 − Humaitá

Brewteco - Embora situado no Leblon, um dos bairros mais nobres do Rio, o Brewteco mantém a personalidade de boteco. A diferença é a boa seleção de cervejas artesanais. Não estranhe ao ver alguém tomando as tradicionais American Lager e comendo torresminho ao lado de alguém tomando Duvel e comendo queijo coalho com mel. Rua Dias Ferreira, 420, Leblon

Botto Bar - Com cara de pub e alma de cervejeiro, o Botto Bar é o bar do cervejeiro carioca Leonardo Botto. São 20 torneiras e as pratos da casa costumam levar ingredientes da cerveja. No primeiro domingo do mês, os cervejeiros podem tomar cafés-da-manhã temáticos.
Rua Barão de Iguatemi, 205 − Praça da Bandeira

Caverna - Com uma pegada rock-chique, o Caverna tem três torneiras e opções em garrafa. Destaque para os pratos e drinques elaborados que tornam a saída com os amigos mais democrática. Rua Assis Bueno, 26, Botafogo

Delirium Café - É o primeiro Delirium Café das Américas e conta com 10 torneiras. Vencedor de 2014 como melhor carta de cervejas do Rio de Janeiro fica localizado em Ipanema. Rua Barão da Torre, 183, Ipanema

Il Piccolo Caffè Biergarten - Localizado no Centro da cidade, o Biergarten é um bar bem amplo. Além das mesas e espaço no balcão, a casa tem uma área aberta com mesas de jardim e cara de Biergarten. Além dos diversos rótulos e possível degustar pratos típicos alemães. R. dos Inválidos, 135 − Centro

Lapa Café - O Lapa Café se orgulha dos seus quase 500 rótulos de cervejas disponíveis. Há também um grande espaço com palco e pista de dança que recebe com frequência alguns pocket shows. Avenida Gomes Freire, 453, Lapa

Lupulino - Situado em Botafogo, o Lupulino nasceu com 16 torneiras, espaço amplo e mezanino para eventos. Os destaques do cardápio são os burguers e os pratos e petiscos dedicados aos vegetarianos. Rua Professor Álvaro Rodrigues, 148, Botafogo

PUB Escondido, CA - Bar de Copacabana que tem 24 torneiras e é dedicado aos cervejeiros mais experientes. É comum encontrar De Molen, Ola Dubh e uma boa seleção de IPAs plugadas. Há muitas opções de hambúrgueres com molhos de cervejas. Rua Aires Saldanha, 98, Copacabana

Yeasteria - Meio loja, meio bar, a Yeasteria é mais um representante da explosão dos spots cervejeiros da Zona Norte. São quase 300 rótulos e três torneiras. É um dos poucos bares do Rio de Janeiro que trabalham com régua de degustação. Rua Pereira Nunes, 266, Tijuca

Veja mais bares na Maria Cevada, ao clicar neste link.